Quando a morte nos bate à porta, ficamos tão desarmados e impotentes … como uma criança tremendo no escuro, povoado de ruídos inquietantes.
Sentimos um vazio intolerável … como que um buraco negro emocional, que suga o presente e um aperto no peito, que nos dificulta a respiração, como que um alicate invisível, que torce lentamente os segundos … e atrás deles os minutos e as horas que se seguem.
Dói … dói fundo e de forma permanente.
As palavras faltam … fúteis, inúteis e incompletas … e a razão esconde-se no armário dos fundos.
O ritual é doloroso, maquiavélico e masoquista … mas algo tem que ser feito para concluir aquilo, que num dia longínquo tinha começado .
Só nos resta desejar que termine depressa e que possamos fugir dali para fora … para que finalmente na solidão de nós próprios, possamos fazer o funeral interior e começar a preparar o futuro, da sua ausência …
A morte é a única certeza que temos na vida, mas nada nela nos prepara para este desfecho … e quase sempre evitamos pensar nisso, preferindo filosofias mais agradáveis …
Os que têm fé e professam uma religião, refugiam-se nela, nestes momentos marcantes, mas até para esses tudo parece muito pouco convincente e certamente questionável.
Por vezes o passado e os seus momentos, tomam de assalto a fortaleza do presente … e é aí que o que ficou por dizer e por fazer, se torna mais pesado, quase insuportável …
Por vezes as emoções não se soltam logo, antes se acumulam no nosso interior como uma bolha, que incha, incha … até que transborda e se solta para fora, finalmente, com ou sem lágrimas.
Dói … dói muitas vezes … e a dor serve para nos recordar que ainda estamos vivos … e que por mais que nos custe, teremos que nos adaptar … e seguir viagem.
E o outro, o ser que foi, como sentirá tudo isto ?...
Será que paira invisível, por cima das nossas cabeças, observando aquela série de pessoas sorumbáticas, que rodeiam o seu corpo pálido e frio ?
Será que já por ali não anda … e que naquele momento renasce, sobre uma outra forma na pele de qualquer outro ser vivo ?
Ou será qualquer outra coisa … ou coisa nenhuma.
Todos os que morreram são únicos … uns mais preciosos, outros menos.
Por muito que nos custe é preciso substituí-los, no estádio das nossas emoções …
Não podemos ficar sós … e lá fora o mundo transborda de seres vivos, igualmente maravilhosos.
Depois do luto e do tempo que temos que dar a nós próprios … é preciso partir em busca de outro ser, que possa tomar o seu lugar, nos nosso quotidiano.
A vida continua, para os que por cá ficaram … e muito irá ainda acontecer, até que a nossa hora chegue, um dia !...
( uma última palavra para ti minha amiga …. Obrigado !!! Obrigado por me teres concedido a graça da tua amizade … obrigado pelos risos e as gargalhadas, que tivemos juntos … obrigado pelos cozinhados, que saboreámos e o vinho que bebemos … obrigado pelos amigos que partilhámos … obrigado pelas festas, pelas conversas e pelos momentos especiais … obrigado pela hospedagem e pela hospitalidade maravilhosa da tua casa … obrigado pela tua força e pelo teu sorriso … Obrigado !!!
Que pena teres partido tão cedo !...
Até sempre !!!)