Portugal é um país em que os residentes se podem dividir em duas grandes categorias: os chulos e os que estão a ser chulados.
Há ainda uma terceira categoria : a daqueles que não querem ser nem uma coisa nem outra, a que poderei chamar os utópicos. São poucos e nem sempre bem sucedidos, mas manifestamente esforçados.
Os chulos são superiormente comandados pelo Estado, o chulo nº 1, o maior e o mais poderoso. A sua principal função é chular o maior número possível de pessoas e da forma mais intensa possível, dando ao mesmo tempo a sensação que o faz, pelas melhoras razões e pelos mais altos e abençoados motivos. É o que acontece por exemplo no caso da luta á evasão fiscal, em que o estado persegue não os outros chulos, que não pagam impostos, mas sim a enorme maioria de chulados, que ficam assim um pouco mais penalizados.
Para tal o Estado inventa um monstro tenebroso: o Défice, que é uma espécie de papão, uma força do mal, que nos barra a entrada no paraíso.
Para além do Estado, muitos outros chulos nos rodeiam, nas mais variadas funções, na política, no futebol, na advocacia, na saúde, no comércio, nas empresas …. Enfim um pouco por todo o lado.
Não quero com isto dizer que nestas áreas e profissões, não haja pessoas justas, honestas e capazes. Digo apenas que são áreas preferenciais de actuação dos chulos.
Os que são chulados são a imensa maioria, quer tenham ou não consciência do facto.
Um chulado tem como maior ambição a de poder um dia ser chulo. Portanto ele no fundo não é contra o acto em si, mas sim contra o facto de estar no lado errado da barricada e não poder chular um bocadinho e assim poder usufruir do seu maravilhoso BMW e gozar o seu rico apartamento de férias em Armação de Pêra. Nutre ainda um profundo desgosto, por a sua imagem não aparecer nas revistas do Jet Set, nem ser convidado do programa do Herman José.
É o chulado que protege os chulos, especialmente se o endrominarem com uma hipotética porta aberta no muro e a possibilidade de passarem para o outro lado. É o chulado que vota nos chulos, sempre que há eleições, sejam elas para o Parlamento ou para a presidência do seu clube de futebol. É o chulado que paga as crises, que se sucedem ciclicamente, é o chulado que vai para as guerras, servindo de carne para canhão e ganhando as batalhas, de que os chulos se gabam. É o chulado que engrossa as listas de espera e as urgências dos hospitais, é o chulado que cava a terra e produz os alimentos, que os chulos comercializam com ganhos astronómicos .… etc, etc, etc ….
Quanto aos utópicos, os tais idealistas que tentam não ser chulos, nem chulados, esses são verdadeiramente o inimigo a abater e o mais certo é acabarem chalados !!!!...
A sua guerra é interminável, feita de derrotas e de algumas vitórias breves.
São subversivos e virtualmente terroristas.
Gostam de campismo selvagem, sem pagar taxas, nem aturar a telenovela, na televisão do alarve vizinho do lado.
Gostam de praias não vigiadas, sem normas e proibições, sem bandeiras azuis, turismo de massas, polícia marítima e motas de água.
Gostam de comer fruta não normalizada, daquela de sabor delicioso, embora não aprovado pela CEE.
Gostam de viajar, sem fazer turismo, nem aviar pacotes, conhecendo os povos e os locais, que visitam.
Gostam de gozar a sua liberdade, sem perder de vista a liberdade a liberdade dos outros, respeitando-a e elogiando a diferença e a diversidade. Não pensam que a sua cultura é superior, nem se acham pertencentes á raça dos mais belos e dos mais fortes.
Não cobram preços escandalosos pelos serviços que prestam, ou pelas mercadorias que produzem e não acham que o dinheiro é o Deus supremo que preside á humanidade.
São talvez uma espécie em vias de extinção, tal como o planeta … mas enquanto existirem, vivem co orgulho, de cabeça bem erguida ….. e são esses ensinamentos que transmitem aos seus filhos, aos seus alunos e a todos aqueles que os quiserem escutar …
A esperança é a última a morrer !...
Talvez um dia possam deixar de existir os chulos e os chulados …. Talvez o planeta possa sobreviver a esta “guerra” ….
Talvez ….