quarta-feira, janeiro 25, 2006

Fardas

Primeiro que tudo detesto fardas !
Como objector de consciência, que sempre fui, com muita honra, recuso não só o pegar em armas para matar outros seres humanos ( questiono até a necessidade da existência de forças militares), mas também recuso a farda, símbolo da disciplina militar, em que o indivíduo é escravizado pelo grupo ( as grandes patentes militares entenda-se ).
Farda, simboliza submissão e humilhação.
Mas não é só na vida militar que eu rejeito a farda. Rejeito-a também naquelas profissões em que ela é perfeitamente dispensável. Acho normal e justificado a bata branca, num médico, ou um fato macaco num mecânico, mas discordo totalmente que um bancário tenha que vestir fato e gravata, ou que um delegado de propaganda médica seja mais respeitável, se tiver idêntico uniforme.
Era aqui que eu queria chegar: ao fato e gravata !
Nunca usei fato e gravata e tenho muito orgulho nisso ! A única excepção foi num Carnaval distante, tinha eu 7 anos de idade, mas nessa altura era apenas uma máscara como outra qualquer.
Costumo até dizer que sou profundamente alérgico a tal uniforme e sei que essa foi uma das razões (não a única) que me levou a não exercer a profissão em que me licenciei (Economia).
Mantenho pois a minha liberdade, embora saiba perfeitamente que isso tem um preço, por vezes elevado, mas a liberdade é mesmo assim … implica sacrifícios e escolhas !!!
Lembro-me até que quando me formei, o meu pai ofereceu-me um casaco, que vesti apenas uma vez, numa entrevista para um emprego … e acabou mais tarde por ser vendido na feira da ladra.
A farda ( o fato e a gravata ) torna-nos a todos em nada mais que fotocópias, imagens humilhantes retiradas de revistas do jet set, carneirinhos todos iguais, que dizem “mééé …” em várias línguas, mas sempre com o mesmo significado.
Nunca disse a nenhum homem que estava bem vestido, ainda por cima com aquela espécie de corda ao pescoço, antes pelo contrário por vezes tento até esconder o desprezo que sinto, por tamanha humilhação.
Vêm isto a propósito de uma notícia que li, sobre a política oficial de muitas grandes empresas, sobre o vestuário obrigatório dos seus trabalhadores (o tal fato e gravata, para os homens), que constitui motivo de justa causa para despedimento !!!
Com que direito uma empresa interfere assim na liberdade e na individualidade, dos seus trabalhadores ?
Certamente que eles não vão trabalhar nus, nem de fato de banho e toalha de praia.
Isto também é fascismo e não pensem que estou a ser radical.
Deixa de ser o António, o Manuel ou o Francisco e passa a ser o homem Vodafone, ou o homem BCP.
E isto é apenas o principio ! Brevemente estas grandes empresas (cada vez mais são elas que mandam no mundo) irão determinar os livros que os seus funcionários podem ler, os filmes que estão autorizados a ver, quais as mulheres com quem podem namorar e como devem ocupar as horas livres, do fim de semana.
Eles serão cada vez mais um simples número, perfeitamente dispensáveis e rápidamente substituídos, com a mesma importância que um simples parafuso, em qualquer engrenagem.
Acham bem ?
Ou ter um simples emprego justifica tudo, implicando previamente que lhes vendamos a alma e cada individuo já nada vale, pois a única coisa que interessa é que a empresa tenha lucros cada vez maiores !!!

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A liberdade de cada individuo, de cada ser humano, encontra-se preservada no seu interior, no fundo do seu coração, na sua fé, nos seus sonhos e convicções ... nunca poderá estar relacionada com uns bocados de pano, mais um menos na moda, com que nos tapamos desde que a Eva deu a maçã ao homem e saímos do paraíso ...

26/1/06 19:33  
Blogger Unknown said...

Sem dúvida, daí a total inutilidade das fardas, ou qualquer outro adereço, que a limite e sufoque.

26/1/06 20:30  
Anonymous Anónimo said...

Então e aquela pergunta inocente nas fichas de inscrição para emprego. "Tem filhos?". Se fôr uma mulher a preencher a tal ficha e tiver pelo menos 1 filho pequeno já não apanha o emprego porque o filho pode precisar de ir ao médico e a mulher vai precisar de dias fora do emprego. Isto é inadmissível! Mas acontece...

27/1/06 16:28  
Anonymous Anónimo said...

Caro, concordo com muito do que diz, sobre as liberdades e etc., mas a verdade é que tantas coisas há que fazem de nós carneirinhos e não é por isso que deixamos de as fazer... Também acho um verdadeiro disparate a história da gravata, mas aceito que em determinados casos e profissões é necessários haver regras, porque senão, ao contrário daquilo que pensa, ao raiar das primeiras manhãs de sol, lá teremos nós o Sr. Silva a atender-nos no Banco com o seu chinelo de enfiar o dedo, calções de banho e camisa havaina, pronto para, mal feche a porta às 15h, ainda ir dar um mergulho à praia mais próxima.
E perguntará, então e que mal tem isso? Tem, meu amigo, porque o Banco na porta ao lado é mais esperto e sabe que os seus empregados inspiram mais confiança e vendem mais crédito pessoais, que depois ninguém tem dinheiro para pagar, se estiverem "fardados". Era bom que não se ligasse a isso, e que fossemos todos iguais independentemento do que vestimos, mas isso é uma verdadeira utopia...

27/9/06 17:59  

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