sábado, janeiro 28, 2006

A Cura (7ªparte)

No dia seguinte, logo de madrugada, Portugal estacionou o táxi em cima do passeio, à porta do consultório do Professor Bambu. Tinha que se apressar, pois tinha prometido entregá-lo ao dono ainda naquela manhã e não queria falhar. Até agora tinha feito tudo direitinho e nem queria pensar no que lhe poderia acontecer se faltasse ao prometido ao mafioso suíço.
Quando a secretária do professor chegou e abriu as portas do consultório, Portugal foi o primeiro a entrar para a sala de espera e lá ficou mirando tudo aquilo, enquanto se deixava envolver no cheirinho gostoso do incenso.
Rápidamente a sala se encheu de pacientes ruidosos, crianças chorando e até um cachorro rafeiro, preso com um cordel à perna de uma mesa.
Por fim o Professor lá chegou e Portugal foi o primeiro a entrar para o seu gabinete, sentando-se pesadamente na mesma cadeira de há uns dias atrás.
--- Bom dia, pá, então por cá de novo ? perguntou-lhe o professor enquanto saboreava um cafézinho fumegante, que lhe trouxera a secretária.
--- Já está, professor, consegui tudo o que me pediu, respondeu Portugal colocando em cima da secretária o apito dourado, o saco azul e a cueca fio dental.
--- Tchi pá, tu conseguiu ... mas falta o táxi, replicou o professor, balouçando-se na cadeira.
--- Está estacionado ali à porta, respondeu Portugal, não o podia trazer para aqui, não é.
--- Fantástico, pá, respondeu o homem, que entretanto se levantara e espreitara pela janela.
--- E agora, já tem a cura para o meu problema, perguntou Portugal, com ar ansioso.
--- Calma, pá, vamos ver o que diz a bola de cristal, respondeu o professor, tocando uma campainha, num botão por baixo da secretária.
Passado um pouco a secretária entrou. Tratava-se de uma gazela africana, linda com a lua, coberta apenas com uma capulana de cores garridas, com os cabelos compridos em locks rastafarianos, sobre os ombros nus e com uns olhos negros, profundos, que penetravam a alma dos homens, deixando-os de boca aberta, como uns peixes fora de água.
O professor disse-lhe qualquer coisa, numa língua estranha e ela dirigiu-se para a janela, fechando as cortinas e deixando o escritório envolvido numa penumbra misteriosa.
Movia-se com graciosidade, bamboleando as ancas sensualmente. Portugal estava conquistado, com o coração a bater sofregamente e não conseguia tirar os olhos da mulata, que depois saiu porta fora, deixando a sala orfã da sua presença.
Passado um pouco voltou, trazendo numa mão uma bola de cristal e na outra umas velas, que poisou sobre a secretária, em círculo, acendendo-as lentamente enquanto olhava para Portugal, com um sorriso estonteante.
Portugal suava em bica, com o coração a cavalgar no peito e os olhos muito abertos. Conseguira já fechar a boca, mas a admiração ainda morava ali.
Enquanto isto o Professor Bambu observava deliciado, dando umas passas longas num enorme cachimbo africano, que entretanto tinha acendido.
A mulata saiu de novo e voltou a entrar trazendo uma bacia metálica, já bastante chamuscada que pousou na secretária do professor. Lá dentro uma pata de galinha, umas penas de ganso e um tufo de pelos, juntamente com mais dois ou três objectos estranhos.
Quando a secretária saiu o Professor Bambu levantou-se por fim da sua cadeira e com passos saltitantes deambulou pela sala, entoando uma estranha cantilena.
Por fim voltou a sentar-se e pegando num isqueiro dourado pegou fogo aos objectos que estavam na bacia metálica.
O ambiente começou a ficar pesado ,numa miscelânea de cheiros, iluminado apenas pelas luzes trémulas das velas, enquanto o professor pegou nos objectos que eu lhe trouxera e jogava um por um na fogueira ateada na bacia metálica.
Depois calou-se e afagou lentamente a bola de cristal, no meio do círculo de velas.
Por fim disse:
--- Agora já vejo bem o teu problema, pá , exclamou olhando para Portugal com ar penetrante.
--- Tu tens falta de mulher ! exclamou em jeito de conclusão, uma mulher que te aqueça na cama e uma mulher que te governe a casa, porque tu não sabes nada disso, pá .
Portugal, nada disse. Tentou falar mas as palavras ficavam-lhe engasgadas na garganta e apenas saiam uns pequenos grunhidos. Continuava de olhos esbugalhados e o suor escorria-lhe pelo rosto.
--- Vejo uma linda mulher, loira e alta, para comandar a tu ! Ela vai pôr ordem na tua casa e orientar a tua vida, pá, concluiu o professor.
--- Mas, mas onde a vou encontrar, conseguiu perguntar Portugal, gaguejando.
O Professor voltou a afagar a bola de cristal e por fim disse:
--- Procura-a no norte, nos países gelados do norte da Europa, terminou, são 100 € pela consulta .

(continua)

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Fantástica Blogonovela, Portugal a caminho da Europa !!

1/2/06 12:57  
Blogger Celia Luz said...

Excelente! Cada vez gosto mais disto, mal posso esperar para ler o próximo capitulo!

4/2/06 01:43  

Enviar um comentário

<< Home