segunda-feira, novembro 21, 2005

A Cura (3ª parte)

Quando desceu do comboio na estação de Gondomar, a chuva parara de cair e o sol brilhava por entre as nuvens.
Portugal olhou para todos os lados, como que à procura de uma indicação, ou de alguém que o pudesse ajudar, mas tudo o que viu foi seres apressados, que rapidamente fugiam de vista. Até que por fim, avistou alguém parado junto a um carro, no parque de estacionamento da estação. Tratava-se de um arrumador e apesar do seu aspecto não ser lá muito convidativo, era sem dúvida o único ser disponível, pelo que não hesitou e dirigiu-se ao homem.
--- Boa tarde, é capaz de me dizer onde é que eu posso encontrar o major ?
O homem olhou para ele de alto a baixo e sorriu dizendo:
--- O major, o major, eu realmente sei quem é, mas agora não me estou a conseguir lembrar, exclamou o homem coçando a cabeça. Talvez se me der algumas moedinhas, para eu poder alimentar a minha memória.
Portugal jogou a mão ao bolso, tirou duas moedas de 20 cêntimos e entregou-as ao homem.
Este voltou a coçar a cabeça e disse:
--- Estava mesmo quase a lembrar-me, mas olhe voltei a esquecer-me. Talvez com mais moedas, respondeu, esticando novamente a mão.
Portugal voltou a remexer nos bolsos e respondeu-lhe:
--- Já não tenho mais moedas, só se for uma nota, exclamou, acenando-lhe com uma nota de 5 €.
O homem pegou na nota, visivelmente satisfeito e afirmou:
--- O major é o Presidente da Câmara, vá por esta rua até ao fim, que a Câmara Municipal fica do lado esquerdo.
Seguiu as instruções do homem e quando chegou ao imponente edifício, dirigiu-se à funcionária da portaria:
--- Boa tarde, eu queria falar com o Sr. Major, por favor.
--- Tem entrevista marcada, perguntou a funcionária.
--- Não, mas precisava de vê-lo com urgência, chamo-me Portugal, afirmou em tom de súplica.
--- Vou ver o que posso fazer, um momento.
A funcionária levantou-se e saiu por uma porta ao fundo da sala. Passado algum tempo voltou com ar sorridente e disse:
--- Está com muita sorte, o major vai recebê-lo já de seguida. Pode subir aquelas escadas e no fim do corrredor, encontra o gabinete do presidente.
Assim fez e passados alguns minutos estava sentado frente a um homem de cabelo e barba grisalhos e que o olhava com ar intrigado.
--- Com que então o senhor é que é Portugal, afirmou o homem, andava já há muito tempo para o conhecer. Então o que é que deseja?
Rápidamente explicou ao major tudo o que sucedera, no escritório do Professor Bambu e terminou afirmando: --- Venho pois aqui falar consigo, para ver se me pode dar o apito dourado.
O major acompanhou toda a sua explicação com a testa franzida, mas no fim, toda a sua cara espelhava a satisfação, que parecia sentir.
---- Até que enfim, afirmou, enquanto abria uma das gavetas da secretária, de onde retirou um apito dourado de grandes dimensões.
--- Nem queira saber o alívio que me dá, explicou o homem, visivelmente satisfeito, desde que tenho esta porcaria a minha vida tem sido um tormento. Leve-o, leve-o já ….

( continua )