quarta-feira, dezembro 28, 2005

Cidadão do mundo

Sou um cidadão do mundo, que por acaso nasceu em Portugal.
Não renego o meu país, mas cansa-me frequentemente estas quezílias domésticas, que tem tanto de mesquinho como de insignificante.
Qual é melhor ? O Benfica ou o Sporting, ou o Porto ? … é tão importante como a cor das cuecas do Pai Natal, serem vermelhas, verdes ou azuis.
Qual é mais importante ? Fátima, Futebol ou Fado ?
Qual vale mais ? O tostão, o cêntimo, o escudo ou o euro ?
Qual é melhor actor ? Um Sócrates disfarçado de Cavaco, ou um Soares a representar Sá Carneiro ? Ou um Alegre a fazer de Camões ?
Será que o Jerónimo é mais sexy que o Cunhal ? Ou o Louça fará melhores poemas que o Bocage ?
Será que o Mourinho terá feito um pacto com o diabo ?
Será que o Castelo Branco é virgem ?
Será que estaremos eternamente condenados à futilidade e à descrença, ou haverá ainda algum papel para Portugal no mundo ?
Será que poderemos evoluir, ou estaremos condenados a ter que escolher entre ver a Quinta das Celebridades 25, ou a Novela 439 ?
A minha vida poderá dar ainda muitas voltas. Quero conhecer o resto do mundo, a que pertenço. É no entanto provável que regresse muitas vezes a este “Jardim à beira mal plantado”, que me viu nascer.
Gostava de o ver evoluir verdadeiramente, de preocupar-se com o que interessa, de colocar num museu todos os “Velhos do Restelo”, que povoaram a nossa história e de o ver prosperar, de possibilitar saúde, alegria e pão a todo a sua população.
Os cemitérios estão cheios de oportunidades perdidas.
Sou um cidadão do mundo e o mundo todo ele é o meu horizonte …
Podemos ser grandes, se nos deixarmos de achar pequenos. Podemos ser importantes, se nos esquecermos da nossa insignificância. Podemos ser felizes, se deixarmos o fado.
A Utopia é apenas aquilo que podemos ser ou fazer amanhã …
Feliz 2006 para todos !!!

( dedicado ao Palhas e a todos os outros cidadãos do mundo )

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É pá, tens de me mandar mais material do Palhas, que eu curti! Há já um quarto de século que fui salvo pelas bolachas que ele me deu, numa grande caixa de cartão quadrada. Alimento que durou mais de uma semana, de Amsterdam até Nice... Longa vida e saúde ao irmão Palhas!!!
Poderemos ser felizes se deixarmos o fado? Se for no sentido de fatum, destino inexorável de quem passaa vida de cú para o ar a ouvir ranger no nevoeiro a nau do encoberto, talvez tenhas razão... Mas o fado é, também - e sobretudo - uma das mais fascinantes formas de expressão da música popular urbana do século XIX, com raízes bem fundas no século XVIII, aliás... Sobreviveu, transformou-se... mas como diria o Pichelim, velho pescador das artes da Praia da Vieira: «os homens por toda a banda são iguais. São como o vinho. Nuns lados é mais doce, noutros é mais azedo, mas é sempre vinho, mesmo quando já é vinagre»... O fado também é assim... Lamento. Uivo à lua redonda no céu pejado de estrelas. Aos amores. às memórias de tempos vividos com prazer e prazer da evocação. Culto da entropia? Não sei. Mas já os ideólogos do Estado Novo recusavam a ideia do fado ser "canção nacional", pois consideravam-na uma canção de vencidos, que enfraquece a alma e a virilidade...
Acho que escusamos de deixar o fado - que aliás, continua a proporcionar lições para reflectirmos sobre o país que somos: Cristina Branco ou Mariza, por exemplo, são o que são e alcançaram o seu estatuto consagrado, porque alguém, na Holanda e em Inglaterra, reconheçeram o esplendor do seu canto. Só depois é que se lhes abriram as portas aqui da Tugalândia...
Mais: nada de confundir fado e nacionalismo ou qualquer forma de apego bacoco à pátria (a minha única pátria é a erva e estou condenado a viver longe dela, neste exílio feito de grandes cuidados e anseios, sempre à espera de mais uma oportunidade para queimar uma, sempre receoso dos maus e dos malvados que destroem a divina dádiva do cânhamo e perseguem os seus cultores - é verdade malta: o fascismo nunca acabou!...). O fado tem alguns paralelos com outras formas de música popular urbana de cidades portuárias - o tango argentino ou a rebetika grega, por exemplo. Esta última era coisa de bachi-bouzouks, de ambientes escuros pejados de fumadores de haxixe. Compunham até odes ao cânhamo... Nós cá tinhamos o Sr vinho, que é mau para o fígado...
Enfim estou a ouvir Mahavishnu Orchestra neste momento, mas acho que fiquei com vontade de partir um faduncho. Isso está feito, ou quê?
Um abraço
C Marley

28/12/05 11:22  
Blogger Unknown said...

Olá Chico
Realmente quando me referi ao fado, era no sentido de destino fatalista, no da sombra eterna a que estariamos condenados.
Fora isso, como música até gosto de algumas coisas (Mariza, por exemplo), desde que não sejam demasiado nostálgicas.
Um abraço, para ti.

28/12/05 11:56  
Anonymous Anónimo said...

eh!eh!eh! Vocês bem podiam juntar-se à esquina a cantar um fadinho, é que enquanto um se queixa de Portugal, o outro lamenta-se que o país o obrigue a uma dolorosa abstinência. eh!eh! vocês desculpem-me, mas não consigo deixar de achar piada ao conjunto dos comentários
........................................................................
Pois eu concordo contigo João, Portugal está muito medíocre, mas se fores ver noutros países a coisa não é menos saloia. Os gostos, as pirosices, as intrigas, os esquemas... é igual por todo o lado, somos todos feitos da mesma massa como diz o pescador do Chico. Só que quando a vida anda difícil a gente tende a ver tudo, mas tudo, muito mais preto. Mas daí a ver a coisa de uma forma fatalista, não sei... Para muitos expressar a dor é uma necessidade absolutamente imperiosa, e se até o conseguem fazer de uma forma artística – como no fado, pois então porque não ? agora não acredito que o fado represente a “alma” nacional, basta pensar nas gerações mais novas completamente hedonistas. Não é por cantarmos bem o sofrimento que somos umas gentes acomodadas, sem esperança e incapazes de revoluções. Será que os argentinos sentem a paixão de forma mais intensa que outro grupo qualquer de gentes? Não, mas conseguem-no expressar maravilhosamente bem.
Apesar da desgraça em que vivemos acho que não estamos condenados. Quanto ao sermos importantes ou grandes em qualquer coisa, não tenho quaisquer ambições. Um Portugal glorioso...como no passado, aahh! (este aahh! é tipo G. Fedorento). Melhorar sim, desejar sermos magníficos parece mais uma coisa megalómana, competitiva, tipo futebol. Nas mentes erradas produz desgraças ainda maiores, lembra-me logo as grandes obras que todos os estadistas gostam de anunciar.
Para rematar posso dizer que nunca comprei ou ofereci um disco de fado. Nunca me interessei pelo mundo do fado, os artistas ou os seus clubes. E sempre que ouço rádio se a música mudar para um fado, procuro logo outro posto. Do fado só gosto de alguns, poucos, temas da Amália, e recentemente do Camané que me parece de facto único. Deste artista, gosto do timbre e do estilo. A loura Marisa tem voz, sabe cantar, mas falta-lhe qualquer coisa, e aposto que se mudasse o cabelo não teria a mesma projecção. Um pouco como a Fátima Lopes das roupas, tem um gosto péssimo e nenhuma arte, mas aparece sempre como uma artista portuguesa com muita projecção.
........................................................................
Pois é gente, e como estamos no final de Dezembro, eu desejo-vos um grande, enorme 2006, muito melhor que o anterior claro!.. Bjinhos a todos. Paula ((( : )

30/12/05 19:12  
Blogger Unknown said...

Olá Paula
Primeiro que tudo um bom ano também para ti.
Talvez tenhas interpretado mal as minhas palavras. É que não estou na fossa, nem a carpir mágoas, nem acho que estejamos irremediávelmente condenados. Também não desejo para Portugal nenhum futuro glorioso, apenas melhor que esta mediocridade e este pessimismo, que se instalou.
Revoltam-me alguns defeitos merdosos dos Portugueses e não me consolam os outros que ainda estão piores que nós (então e os que estão melhores?). Reconheço no entanto que os Portugueses tem também qualidades ( e não são poucas), que parece que só são aproveitadas no estrangeiro e por cá são desperdiçadas, pela Santa ignorância, que nos governa.
E mais não digo por hoje, porque com esta presopopeia, já perdi o episódio dos Morangos com Açucar!
Beijinhos

30/12/05 20:13  
Anonymous Anónimo said...

Para ti e a tua familia um bom ano 2006!Até amanhã.
Paulo

31/12/05 18:15  
Anonymous Anónimo said...

Olha, que curtido, juntaram-se aqui uns quantos que eu nunca tinha visto por cá! Olá e bom ano para todos!
C Marley

2/1/06 14:27  
Anonymous Anónimo said...

João, revi-me neste último comentário que fizeste, realmente as minhas qualidades estão a ser aproveitadas no estrangeiro e não em Portugal porque infelizmente não há trabalho nem condições. Sempre quis estudar! Mas Portugal não tem condições para as pessoas estudarem e trabalharem ao mesmo tempo por isso tive que vir para tão longe (Cambridge, UK) para conseguir tirar um licenciatura. Acabei por conseguir e o meu desejo era voltar para Portugal mas... e o trabalho? Como posso voltar para Portugal sem trabalho? Como posso voltar a Portugal sabendo que a taxa de desemprego aumenta alarmadamente todos os dias? Cada vez sinto maior tristeza por ter que sair do meu País para me formar e ainda por cima não puder regressar...
Feliz Ano Novo!

3/1/06 19:05  

Enviar um comentário

<< Home