quinta-feira, janeiro 19, 2006

Planisfério Pessoal


Quero-vos falar hoje de Planisfério Pessoal, um livro de Gonçalo Cadilhe.
É um livro de viagens, um livro de emoções fortes, de horizontes vastos e sublimes, um livro sobre a vida que povoa este planeta fantástico onde nascemos.
O autor teve uma ideia, que parece simples e se revela afinal de uma enorme complexidade e riqueza: dar a volta ao mundo, sem utilizar o avião, por terra e pelo mar, de camioneta, cargueiro, à boleia, comboio ou lancha, a pé ou de carro.
Começamos a ler e rápidamente mergulhamos totalmente na viagem, nas descrições curtas, que nos sabem a pouco e damos por nós a sentir vontade de ficar um pouco mais em cada um daqueles locais, em conhecer um pouco mais algumas daquelas pessoas maravilhosas, a beber nelas a sua esperança de viver.
Por vezes a emoção tolda-nos a visão e as lágrimas indiscretas obrigam-nos a uma pequena paragem, a um momento de reflexão, como este em que estou a escrever estas linhas. Afinal para quê tantos das nossas tristezas e mágoas existenciais ?
Somos no fundo uns ignorantes, com pretensões estúpidas de sabedorias medíocres. O que conhecemos nós do mundo, para além da pequenez do nosso terraço ?
Como podemos permitir sentirmo-nos pobres, quando a comida não nos falta a cada refeição e as moedas nos pesam nos bolsos ?
Ouvimos falar do resto do mundo através das televisões, que nos controlam deliberadamente as emoções e se mesmo assim tudo é muito forte, mudamos de canal com a facilidade que advém da nossa condição de privilegiados.
Gonçalo Cadilhe quis ver com os seus olhos, sem intermediários nem encenações, puro e duro, com tanto de cruel como de maravilhoso, chocante e deslumbrante ao mesmo tempo e com todas as sensações à flor da pele.
Ainda não acabei de ler o livro, tento saboreá-lo em vez de devorá-lo ... mas para já uma pergunta martela na minha cabeça: Como conseguiu ele voltar ?
Como conseguiu integrar-se de novo neste quotidiano mesquinho e pequeno ?
Como conseguiu suportar a tristeza nacional e tamanha mediocridade ?
E daí talvez seja eu que esteja a ver mal as coisas ... talvez esteja a ver o “filme” com o desconforto de quem já não suporta a cadeira onde está sentado à tantas horas ...
Talvez ...
De qualquer forma não posso deixar de recomendar a leitura deste livro.
Vá lá. Apague a maldita televisão, ponha a sua música preferida e deixe-se levar ... a conhecer este mundo maravilhoso e tremendo, a que chamamos Terra ...

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Também a não perder o recente "No princípio estava o Mar" - "Surf viagens e outras inquietudes" do Gonçalo Cadilhe.

Através de pequenas histórias, baseadas nas suas experiências pessoais, ou pensamentos e considerações sobre a vida e as pessoas, sempre com o surf presente, numas vezes como ponto de partida, noutras como de chegada, noutras ainda como assunto principal.
Já li os dois e recomendo vivamente !!

19/1/06 11:51  
Anonymous Anónimo said...

Vou responder á tua pergunta: Como conseguiu ele voltar?
Não só conseguiu, como devia estar desejando voltar, porque como os Ingleses aqui dizem e muito bem, "There's no place like Home" Não há sitio melhor do que a nossa casa ou neste caso o nosso país, e passo a explicar, pelos outros países que passamos podemos encontrar coisas melhores ou piores do que no nosso, mas a nossa cultura é a de onde nascemos e vivemos e quando afastados dela sentimos muita falta. Falta dos familiares, amigos, comida, sitios e de todo um conjunto de coisas simples que não encontramos nos outros países. Eu, por exemplo, vivo na Inglaterra e tenho saudades de tudo o que já disse e até de coisas simples como tremoços ou um passeio á beira mar. O nosso país é lindo!!! E por mais crise que tenha eu desejo é voltar!

22/1/06 21:33  
Blogger Unknown said...

Acredito Célia.
É engraçado como a perspectiva de quem está fora, ser tão diferente da perspectiva de quem está dentro.
Também eu gosto de Portugal, mas irrita-me tanta mediocridade e certas merdas que vejo á minha volta.
Obrigado pela tua colaboração

23/1/06 20:19  
Anonymous Anónimo said...

Até determinada idade, 20, 20 e tal anos, talvez, todos os músicos, escritores, todos os artistas em geral, que nós admirávamos, eram adultos, mais velhos que nós, ou já tinham morrido. Estavam mortos. E aí sim, eram endeusados, amados, venerados e consumidos até há exaustão. Quem não se lembra do Jim Morrison, da Janis Joplin, Jimi Hendrix ... Depois, os anos foram passando e as coisas começaram a mudar. Começaram a surgir as gerações mais novas, e a revelar-se, em todas as áreas, a espantar-nos, a serem objecto da nossa admiração e inveja. Por vezes podemos não saber lidar muito bem com essas situações, com essses sentimentos contraditórios que nos assaltam, mas eles, esses jovens, estão cá e vieram para ficar ... É o caso do Gonçalo Cadilhe, que é um Jack Kerouac português, ainda por cima da Figueira da Foz (vem quebrar a velha dualidade, aquela eterna rivalidade entre Lisboa e Porto), e provar que o resto do país ainda existe, está vivo e cheio de ideias e sonhos, para partir e voltar, pela estrada fora, on the road, entre a Figueira da Foz e um qualquer ponto cardeal da bússola que orienta os dias do Gonçalo

26/1/06 20:19  
Blogger Unknown said...

Sem dúvida é salutar, que a nova geração mostre como tem bons valores. Nunca concordei com a ideia foleira da geração rasca, lançada por um cronista da nossa praça. Não é só o Gonçalo, há muitos outros, que muitas vezes só se conseguem afirmar lá fora, devido á mediocridade e desconfiança da geração actualmente no poder.

26/1/06 20:46  

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