quarta-feira, dezembro 28, 2005

Cidadão do mundo

Sou um cidadão do mundo, que por acaso nasceu em Portugal.
Não renego o meu país, mas cansa-me frequentemente estas quezílias domésticas, que tem tanto de mesquinho como de insignificante.
Qual é melhor ? O Benfica ou o Sporting, ou o Porto ? … é tão importante como a cor das cuecas do Pai Natal, serem vermelhas, verdes ou azuis.
Qual é mais importante ? Fátima, Futebol ou Fado ?
Qual vale mais ? O tostão, o cêntimo, o escudo ou o euro ?
Qual é melhor actor ? Um Sócrates disfarçado de Cavaco, ou um Soares a representar Sá Carneiro ? Ou um Alegre a fazer de Camões ?
Será que o Jerónimo é mais sexy que o Cunhal ? Ou o Louça fará melhores poemas que o Bocage ?
Será que o Mourinho terá feito um pacto com o diabo ?
Será que o Castelo Branco é virgem ?
Será que estaremos eternamente condenados à futilidade e à descrença, ou haverá ainda algum papel para Portugal no mundo ?
Será que poderemos evoluir, ou estaremos condenados a ter que escolher entre ver a Quinta das Celebridades 25, ou a Novela 439 ?
A minha vida poderá dar ainda muitas voltas. Quero conhecer o resto do mundo, a que pertenço. É no entanto provável que regresse muitas vezes a este “Jardim à beira mal plantado”, que me viu nascer.
Gostava de o ver evoluir verdadeiramente, de preocupar-se com o que interessa, de colocar num museu todos os “Velhos do Restelo”, que povoaram a nossa história e de o ver prosperar, de possibilitar saúde, alegria e pão a todo a sua população.
Os cemitérios estão cheios de oportunidades perdidas.
Sou um cidadão do mundo e o mundo todo ele é o meu horizonte …
Podemos ser grandes, se nos deixarmos de achar pequenos. Podemos ser importantes, se nos esquecermos da nossa insignificância. Podemos ser felizes, se deixarmos o fado.
A Utopia é apenas aquilo que podemos ser ou fazer amanhã …
Feliz 2006 para todos !!!

( dedicado ao Palhas e a todos os outros cidadãos do mundo )

terça-feira, dezembro 27, 2005

Solidariedade

Solidariedade é uma palavra gasta. Não há político que se preze, que não a use e abuse. Está presente em todas as mensagens de Natal de Presidentes, Primeiro Ministros e Arcebispos vários. Desperta em nós sentimentos de compaixão, altruísmo e culpa. Mas na realidade o que se faz em seu nome é muito pouco e claramente insuficiente.
Todos os anos por esta época, os nossos sentimentos de culpa, levam a que se fale muito dos pobrezinhos, dos necessitados e dos deficientes …. Depois o Natal passa e o tema passa para terceiro plano, pelo menos até ao próximo Natal, ou até que mais algumas crianças morram intoxicadas pela miséria, ou violentadas pelos pais.
A verdade é que se nota um enorme aumento do número de pedintes nas ruas e um acréscimo brutal do número de sem abrigo e abandonados pela sociedade.
O governo encolhe os ombros e diz que não há dinheiro e nós que enchemos a casa de prendas de Natal inúteis e disparatadas, olhamos para o lado e aceleramos o passo, quando o mendigo nos estica a mão, suplicante.
Proponho uma solução: A criação de um Fundo de Solidariedade, independente da gestão do Estado (não é de confiança), a distribuir por todas as organizações de solidariedade social, pelas ONG, que actuam em Portugal e também no estrangeiro, por organizações de deficientes, por organizações de apoio a doenças crónicas e por organizações que cuidem de crianças em risco.
E agora a grande questão: de onde vêm o dinheiro, para financiar tudo isto ?
Há uma coisa em Portugal que é escandalosamente barato: o tabaco ! Se não acha, veja quanto paga por um maço, em França ou em Inglaterra, ou até nos países nórdicos ( que nos servem tantas vezes de comparação, pela positiva). O tabaco é uma droga terrível, que mata, mais que qualquer outra coisa, no mundo de hoje (mais que as guerras e as catástrofes naturais !).
Defendo que todas as pessoas tem o direito de se envenenarem! Mas este direito tem o seu preço. Um preço muito alto em Saúde (deles e dos outros, os fumadores passivos).
Para 2006, o tabaco vai aumentar 35 cêntimos, por maço. É pouco, é muito pouco !
Proponho que aumente 1,5 €, em 2006 e mais 1€ em 2007, na condição de toda a verba deste aumento, ser destinada ao tal Fundo de Solidariedade.
Sei que os fumadores me vão cair em cima e chamar muitos nomes feios. Quero lá saber! Apenas digo o que acho justo e toda a gente tem liberdade de discordar.
Então o que acha ? Vá lá, onde está o seu espírito de solidariedade ?

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Tsunami









Um ano depois da maior catástrofe natural deste século, algumas fotos impressionantes!




Os que sobreviveram ainda precisam da nossa ajuda !!

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Feliz Natal para todos

A Cura (5ªparte)

Portugal desta vez não estava com sorte. Há dois dias que estava à beira daquela estrada de polegar esticado e nada. Ninguém parava e havia até quem o tentasse assustar, guinando o carro na sua direcção, como se fosse para atropelá-lo. Desesperado e esfaimado recolheu as últimas moedinhas, que tinha nos bolsos e resolveu ir comer uma bifana, ao restaurante de estrada, alguns metros mais á frente.
Entrou na sala cheia, onde o cheiro a feijoada se misturava com o nevoeiro do tabaco e sentou-se numa mesa junto á janela. Era um restaurante de camionistas, que se juntavam em grupos barulhentos e esfomeados, enquanto os camiões TIR alinhados lá fora, como que montavam guarda. Lá dentro o ambiente era ruidoso, enquanto os jarros de vinho e os tachos de feijoada, não paravam de passar, transportados por uma empregada loira, com uma largo decote e sorriso de coelho.
Estava para ali perdido nos seus pensamentos, mastigando lentamente a sua bifana, quando vê através do vidro um táxi a estacionar. O seu condutor saiu com ar cansado e receoso e olhou para todos os lados amedrontado, antes de fechar o carro e entrar no restaurante. Como estavam todas as mesas cheias, dirigiu-se à sua e disse-lhe: --- Posso-me sentar aqui, está tudo cheio.
--- Claro, respondeu Portugal, faça favor.
O homem de meia idade e impecávelmente vestido, sentou-se e logo começaram ali uma amena cavaqueira. Disse-lhe que vinha da Suiça e que guiara todo o dia e noite, só parando para comer e fazer algumas necessidades. Estava a cair de sono, mas tinha pressa em chegar a Oeiras, onde tinha que entregar uma encomendas, para o tio.
--- Mas nesse estado, exclamou Portugal, ainda vai ter para aí um acidente. Você tem que descansar!
--- Pois é, exclamou o homem, estou mesmo a cair de sono, isto já não vai nem com uma remessa de cafés. Mas não posso parar, se chego atrasado o meu tio mata-me.
--- Já sei o que podemos fazer, respondeu Portugal, há uma boa forma de resolvermos o problema e ambos ficamos a ganhar . Eu também preciso de ir para essa zona e não tenho transporte, como tenho carta de condução, eu posso guiar o seu táxi e você pode dormir uma bela soneca no banco de trás.
--- Era bom, era, mas para guiar o táxi é preciso carta profissional , exclamou o homem com ar desanimado.
--- Eu tenho carta profissional, respondeu Portugal tirando-a da carteira e mostrando-a ao outro … e também já guiei táxis nas ruas de Lisboa.
--- Que maravilha, disse o outro, agora já com um ar feliz, eu até lhe pago a despesa homem.
E assim foi, chamou a empregada, pagou a conta dos dois e lá saíram em direcção ao carro, estacionado logo em frente ao restaurante.
Portugal sentou-se ao volante, enquanto o outro se instalava no banco de trás.
Arrancaram e o homem disse: --- Deve estar a precisar de gasóleo, pare na próxima bomba e meta 50 €, está aqui o dinheiro, exclamou entregando-lhe uma nota. Outra coisa, se a polícia o mandar parar, diga que é meu passageiro e que a bagagem que está na mala é sua.
Dito isto, deitou-se, tapando-se com o casaco e passado poucos segundos já estava a ressonar.
Portugal, ficou intrigado, com aquela última frase, mas não se atreveu a acordar o homem, que dormia tão profundamente lá atrás. Tentou concentrar-se na estrada, mas aquela frase não lhe saía da cabeça.
Passados alguns kilometros, chegaram á bomba de gasolina e Portugal saiu para encher o depósito.
O homem nem acordou e continuava a ressonar no banco de trás.
Portugal sempre fora curioso e depois de pagar o gasóleo não resistiu e foi espreitar na bagageira do carro. Lá dentro três malas diplomáticas pretas, todas do mesmo tamanho, encontravam-se alinhadas a um canto.
Que estranho, pensou, nem roupa , nem nada. Não resistiu e tentou abrir a primeira mala, mas estava fechada á chave. Já estava para desistir quando viu que uma das malas tinha um papel meio atravessado, num dos fechos. Tentou abrir essa e conseguiu. Foi tanta a sua admiração, que quase se borrava pelas pernas abaixo … A mala estava cheia de notas . Fechou-a, já bastante assustado e olhou para todos os lados, mas ninguém dera conta de nada.
Voltou para dentro do carro e arrancou .
E agora , pensou, estou metido num sarilho. Continuou a guiar e depois de muito ponderar decidiu, que não ia dizer nada ao homem, fingindo que nada teria acontecido.
Passadas umas horas, chegaram a Oeiras e então acordou o homem, que lhe pediu para parar á porta de uma pensão onde iria ficar alojado.
--- Soube-me que nem ginjas, exclamou já com um ar mais desanuviado, nem sei como lhe poderia agradecer, afirmou todo sorridente.
--- Não queria estar a abusar, respondeu Portugal, mas se me emprestasse o táxi por umas horinhas, precisava de ir até Sintra.
--- Concerteza, respondeu o outro, só vou precisar dele amanhã, agora vou para a segunda parte desta minha soneca, há duas noites que não dormia. Traga-me a máquina amanhã ás 11 . Não falhe, estou a confiar em si.
--- Esteja descansado, afirmou Portugal, mal acreditando no que ouvia, cá estarei e muito, muito obrigado. O homem saiu, levando consigo as malas da bagageira e Portugal ali ficou a pensar como se tinha safado daquela.

(continua)

quarta-feira, dezembro 21, 2005

a banhos

Saúde

Como sabem o Ministro da Saúde vai fechar uma série de urgências hospitalares, um pouco por todo o país. Infelizmente os portugueses parecem não querer colaborar.
Portanto está em estudo a seguinte medida: O Governo prepara-se para proibir os portugueses de adoecer mais do que uma vez, por ano !
Se tal não suceder, das duas uma: ou é estrangeiro e então paga, ou vai tratar-se a Espanha; se é português então está fora da lei e paga, senão vai para a cadeia, onde já não precisa de tratamento.
Simples, não é ?

segunda-feira, dezembro 19, 2005

sábado, dezembro 17, 2005

Prostituição

Segundo parece hoje é o dia mundial das trabalhadoras do sexo. Aquelas a quem a sociedade moral normalmente chama de putas.
Sou claramente a favor da legalização da prostituição ! Não tenho preconceitos, nem falsos pudores para com as trabalhadoras da mais velha profissão do mundo. Tenho respeito !
Dizem que é degradante. Pois é ! Mas não é também degradante a vida da mulher, que trabalha 12 ou 14 horas por dia a fazer limpezas, nas casas dos ricos ? Não é degradante a situação da mulher, que tem que abrir as pernas ao patrão, se não quiser perder o emprego ? Não é degradante ter que pedir para comer, só porque nasceu no lado errado, ou no país de baixo, deste mundo cão ?
Vivemos numa sociedade hipócrita, profundamente machista, que não censura o homem que vai ás putas, mas critica ferozmente a mulher que tem que vender o seu corpo, para sobreviver.
Adoramos uma igreja, sem moral, que nega terminantemente o preservativo e a pílula, de uma forma criminosa e indecente e depois ficamos chocados com casos como o da Joana, morta e esquartejada pela mãe e o tio, ou o recente caso da bebé de cinco semanas, violada e quase morta, pelo próprio pai … è evidente que estas casos não teriam sucedido, se houvesse educação sexual nas escolas e distribuição gratuita de pílulas e preservativos … mas a igreja não quer … e nós engolimos em seco e olhamos para o lado, como se não fosse nada connosco !
Nunca recorri aos serviços de uma prostituta! No entanto conheço alguns, que as frequentam durante a noite … e as renegam e humilham durante o dia, assumindo a sua condição de cidadãos respeitáveis e acima de qualquer suspeita! É assim a hipocrisia nacional !!!
E depois assistimos a movimentos como o das “mães de Bragança”, incomodadas com a concorrência das brasileiras. O que é certo é que conseguiram vencer e todas as casa de alterne da zona foram fechadas ! Mais uma vez foi a vitória do “ faz de conta”, pois as casas de alterne foram apenas deslocalizadas, para poucos kilometros de distância, para a Galiza …
Porquê então a legalização da prostituição ? Primeiro que tudo, por uma questão de justiça . Desde sempre que ela existe, não podemos ignorá-la e no fundo é apenas mais uma profissão, que merece ser reconhecida como tal. Segundo por uma questão de Saúde pública. Se temos graves problemas com o alastrar da SIDA e das doenças sexualmente transmissíveis é preciso controlar e tratar estes focos infecciosos, protegendo não só as prostitutas, mas também os seus clientes. Terceiro, porque seria natural a existência de zonas próprias, para que elas possam exercer a sua profissão, sem constrangimentos, nem confusões.
Simples, não é ? Sem vergonhas, nem hipocrisias !
Será possível ?

Memórias

O carro rola suavemente na noite escura, polvilhada de luzinhas de candeeiros e casas.
Na rádio passa aquela música suave, que me embala, numa agradável sensação de prazer e aventura …
O tio e o sobrinho … o Carocha e a noite … o Algarve e a emoção dos doze anos … o cafezinho naquele bar de praia e os camarões deliciosos, naquela cervejaria de Quarteira.
A excitação da aventura, por entre os goles de cerveja … o mundo dos adultos à espreita, por entre aquele buraco nas cortinas … Os sonhos maravilhosos e a certeza de ir mudar o mundo … Histórias de viagens e encontros, pessoas fantásticas e sonhos inadiáveis …
Amanhã … haverá praia, muita praia … sol, férias … batalhas de colchões na água e emocionantes partidas de futebol na areia.
Á noite, quem sabe … talvez outra escapada a dois, tio e sobrinho, aquela dupla … o boémio e o aprendiz … de novo os camarões e a cerveja, de novo a aventura …
Antes à tarde, uma fuga até ao campo à encantadora hortinha, onde as laranjeiras estão a pedir água e as galinhas desesperam pelo milho. E o trepar ao bico das tangerineiras sumarentas, de onde o mundo parece tão vasto …. Com uma mão segurando o ramo, enquanto a outra descasca a tangerina deliciosa e os olhos seleccionam já a próxima “vítima” deste apetite insaciável .
É o som dos passarinhos nas árvores e aquele relaxante perfume do campo algarvio … o sol impiedoso e quente e o vento que acaricia as árvores …
E mais não é, porque a música acabou, o tempo passou … e a realidade acordou !

( 23/3/95, dedicado ao meu tio e escrito ao som de S. Francisco)

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Luar

Presidenciais

Está na altura de falar do tema quente do momento, as eleições presidenciais.
Aqui vai a minha opinião sobre cada um dos candidatos:
--Cavaco Silva : Um nome do passado, repescado para o presente e apresentado como o salvador da pátria, uma espécie de D. Sebastião, para nos salvar do nevoeiro económico, que nos asfixia. Na realidade um dos culpados pela situação actual, já que apostou num modelo económico, que agora faliu e que se baseava na mão de obra barata (e sem qualificação) e no betão, com auto-estradas e infra-estruturas com fartura, mas desleixando o conhecimento e a formação, que hoje tanta falta nos fazem. Representa uma mentalidade de merceeiro, que nada de novo irá trazer a Portugal.
--Mário Soares: Um ex-rei, agora sem trono, que vivia triste e enfadado, com saudades das luzes da ribalta e das palmadinhas nas costas. O homem que dividiu a esquerda, por causa de um capricho. Um dos maiores responsáveis pela situação que actualmente temos, um dos homens mais poderosos de Portugal, que conseguiu esconder habilmente alguns telhados de vidro do passado (nunca percebi lá muito bem o seu apoio ao sanguinário Savimbi, terá sido uma questão de diamantes ?). Apetece até perguntar: Se há uma idade mínima para os candidatos (35 anos), porque razão não há também uma idade máxima ? A questão parece-me importante porque pode dar ao homem algum ataque de senilidade, ou de Alzeimer … e depois como seria ?
--Manuel Alegre: Um poeta, que se candidatou para vingar uma desfeita (a do seu partido e do seu grande amigo Mário Soares). Um homem que não traz nada de novo ao país, que iria certamente elaborar uns bonitos discursos (ainda melhores que os do anterior poeta Sampaio), fazer umas boas presidências abertas, repletas de preocupações e palavras bonitas … mas mais nada !
--Jerónimo de Sousa: A nova vitamina do PC, um homem simpático e bem disposto, que se podia convidar para um belo churrasco, ou outra qualquer festa popular. Teve o mérito de travar a queda do partido, após uma década de cassete Carvalhas, chato, monocórdico e cinzento. No entanto, falta ali qualquer coisa (apesar de alguns avanços consideráveis, em relação ao estalinismo de Cunhal) e o que falta é a alternativa de sociedade, após a queda do muro de Berlim, ter deitado por terra a tese dos “paraísos” socialistas (afinal de contas ditaduras ferozes e sanguinárias). Note-se por exemplo o conservadorismo moral ainda existente, quando se afirma contrário á legalização da prostituição.
--Francisco Louça: A “alma” da nova esquerda. Um político brilhante, acutilante e eficaz. Um professor universitário, que consegue falar claro, de uma forma que todos entendem. Um antigo revolucionário de extrema esquerda, que soube evoluir e adaptar-se ao mundo e á sociedade que temos. Um homem simpático e inteligente, muito activo e dinâmico e que não é refém de interesses corporativos, de grandes empresas, ou de construtores civis. Aprecio o seu estilo e é nele que eu vou votar !

Para terminar, gostaria aqui de deixar um apelo ao voto. Eu sei que estamos todos fartos da política e dos políticos que temos. Andam por aí muitos fantasmas do passado, que apregoam que dantes é que era bom e que as eleições não servem para nada. Este é o espírito da ditadura, que nos governou durante décadas.
Não podemos deixar que ela volte !!! E é isso que aconteceria, se todos nos demitíssemos e ninguém fosse votar !.... Por isso, se não gosta mesmo nada de nenhum dos cinco candidatos, não se esqueça de que tem ainda um sexto: o voto em branco.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Parque Nacional da Peneda Gerês.
Só para banda larga.

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quarta-feira, dezembro 14, 2005

Negociatas

Já não bastava vivermos num país falido, cujas dívidas vão levar várias gerações a pagar.
Cada político que chega ao governo, em vez de se preocupar em melhorar as condições de vida das pessoas que nele votaram, tem como principal preocupação deixar uma marca, que fique para a história, tipo Marquês de Pombal, dos tempos modernos… ainda que isso signifique prejudicar ainda mais o dia a dia, de todos nós.
Passadas que foram as despesas faraónicas, num Centro Cultural de Belém (Cavaco), Expo 98 (Cavaco + Guterres), Euro 2004 (Guterres + Barroso) e perante a impossibilidade de conseguirmos trazer os Jogos Olímpicos a Lisboa, eis que surgem a Ota e o TGV, para porem Sócrates nos livros de História de Portugal do futuro.
Para além disso, essa foi uma pré-condição, para que os construtores civis e as grandes multinacionais o elegessem (são eles os financiadores das campanhas eleitorais dos principais partidos e na realidade são quem governa Portugal, embora a partir dos bastidores).
Num país em que os polícias morrem porque não tem coletes anti-bala e ainda usam pistolas da 2ª guerra mundial, Num país em que os portugueses desesperam (e por vezes morrem) nas urgências dos hospitais. Num país em que centenas de milhar de velhotes sobrevivem no limiar da miséria, com reformas de fome. Num país onde o salário mínimo é um dos menores da Europa e subiu apenas 30 cêntimos por dia. Num país onde um qualquer processo pode apodrecer durante 10 anos num tribunal, por falta de meios da Justiça. Num país onde há comboios do século XIX, daqueles em que nas subidas, quase é preciso que os passageiros saiam, para dar um empurrãozinho.
Pois é num país assim que vamos ter um TGV, que custa 11 milhões de euros por Km e um aeroporto megalómano a 50 Km de Lisboa !
Eu, como gosto de olhar para o futuro, quero aqui propor uma nova obra, para o pós TGV e pós Ota (se nessa altura ainda existir Portugal !) :
Vamos fazer a maior ponte do Sistema Solar, que una Lisboa ao Funchal !
Que tal ? Não era o máximo ?

terça-feira, dezembro 13, 2005

O Poeta, a Esfinge e o Velho

O Poeta vendia sonetos por esse país fora. Convidavam-no para abrilhantar festas de aniversário, convenções profissionais, celebrações de datas históricas e jantares gastronómicos.
Não tinha mãos a medir e todos elogiavam os seus poemas, vibrantes de emoção e com indiscutível qualidade. Já escrevera até alguns livros, mas andava um pouco farto daquela vida. É verdade que lhe davam muitos elogios e palmadinhas nas costas, mas todos aqueles “amigos” nunca se lembravam dele quando havia algum trabalho mais importante.
Começou então a procurar nos anúncios de emprego dos jornais diários, até que um dia a sua atenção ficou presa num que dizia assim:

Procura-se Presidente da Republica. Se tem mais de 35 anos, figura apresentável, sabe cortar fitas e botar discurso, gosta de viajar e fala várias línguas, concorra, o país precisa de si !
Oferecemos salário chorudo, viatura de luxo com motorista, equipa de assessores á sua escolha, palácio de S. Bento para habitar, mais de vinte viagens ao estrangeiro, por ano, para si e seus convidados e a sua fotografia emoldurada em todas as repartições públicas do país.

É isto mesmo, pensou o poeta, está aqui a minha oportunidade.
E foi, vestiu o seu melhor fato, penteou cuidadosamente a sua imponente barba grisalha e apresentou-se na capital, no endereço indicado no anúncio.
Quando lá chegou, já outra candidato partilhava as cadeiras da sala de espera.
Era a Esfinge, um homem alto e magro, com cara de poucos amigos, lápis atrás da orelha e pose muito direita, com se tivesse engolido uma vassoura. Falava em tom glacial, sem revelar qualquer tipo de emoção e nunca olhava o interlocutor nos olhos, preferindo antes fixar um ponto imaginário à sua frente.
Não lhe disse sequer bom dia e ignorou-o olimpicamente, enquanto lia atentamente um livro de Economia, em Inglês.
Foi então que a porta se abriu, com grande estrondo e um terceiro candidato entrou, tropeçando no tapete da entrada e só não caindo porque foi imediatamente amparado por dois outros homens mais novos, que o ladeavam.
--- Deixem-me, deixem-me, rabujou o homem, ainda consigo andar sózinho.
Era o Velho, uma prestigiada figura da 1ª República, que as más línguas diziam ter 120 anos, mas que jurava ter apenas 80. Já ocupara todos os cargos deste país, no passado e gozava de uma fabulosa reforma e de muitas outras regalias.
Era uma espécie de rei, sem trono e isso aborrecia-o soberanamente. Fartara-se de jogar às cartas, nos bancos de jardim, ou de discutir política com os seus amigos centenários, apesar dos bolinhos gostosos, da sua Maria e do cházinho de tília, que lhe temperava o sono e afastava a insónia.
Estava então o poeta perdido nestas conjecturas, quando se abriu a porta do salão principal e o ainda Presidente Bocas, entrou solenemente.
--- Ora bom dia meus senhores, sois vós então os candidatos à presidência da Republica. Quero – vos informar, que esta audiência está a ser transmitida em directo para todo o país. O que têm a dizer, para justificar a vossa candidatura ?
O Poeta levantou-se, dirigiu-se para o centro da sala, levantou os braços e disse:
--- As armas e os barões assinalados, que da ocidental pátria lusitana, partiram para desbravar novos mundos … jazem incrédulos, perante a mesquinha condição, que nos persegue no presente !
Somos feitos da matéria celestial, do pó das estrelas e o nosso destino só poderá ser glorioso e nobre !
Eu sou a hipotenusa, que une os catetos da portugalidade. Eu serei o timoneiro desta nau e restabelecerei a confiança e o orgulho desta nação sublime .
E voltou a sentar-se visivelmente satisfeito com a sua prestação.
Levantou-se então a Esfinge e dirigiu-se para o centro da sala, retirando o lápis de trás da orelha.
--- Eu sou o único que sabe fazer contas ! Sou licenciado em Economia, doutorado em Finanças Públicas, mestrado em Orçamentos e Impostos e resolvo matrizes e determinantes, mais rápidamente que qualquer calculadora. Este país não precisa de poetas, nem de velhos rançosos. Precisa de alguém que meta as contas na ordem, ponha o país a facturar e os cofres a transbordar . Eu sou essa pessoa, concluiu solenemente, voltando a sentar-se no seu lugar.
Levantou-se então o velho e com esforço lá se dirigiu lentamente para o centro da sala.
--- Eu sou o Português mais conhecido em todo o sistema solar. Conheço os cinco cantos do mundo e trato por tu todos os presidentes e primeiro ministros da galáxia. Sobrevivi a todas as crises política, dos últimos cem anos, escapei a todas revoluções e golpes de estado, participei em todos os governos e tenho amigos e apoiantes em todos os parlamentos. Criei partidos e associações, inventei fundações e fui o maior angariador de fundos comunitários. Sou recordista de jantares, cocktails, reuniões e plenários. Ninguém em Portugal viajou tanto como eu, andei de elefante na Índia e de tartaruga nas Seichelles. Como vêem, sou sem dúvida o mais indicado para desempenhar este cargo, o único que irá prestigiar e valorizar Portugal, concluiu com um ataque de tosse e dirigiu-se a custo para a sua cadeira.
Fez-se um enorme silêncio na sala, só interrompido pelo Presidente Bocas, que disse:
--- Meus senhores, obrigado pelas vossas palavras, feliz o país que tão ilustres filhos têm ! Os dados estão lançados. A partir de agora e durante algumas semanas, vão percorrer o país, tentando convencer os vossos eleitores. Desejo a todos boa sorte e que ganhe o melhor …

( esta história ainda não terminou, há capítulos a serem escritos todos os dias …Em Janeiro logo se verá !)

sexta-feira, dezembro 09, 2005

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Liberdade condicionada

Os nossos políticos gostam muito de falar das nossas liberdades maravilhosas.
Defendem até o discurso do “pobrezinhos, mas livres”, com uma vitória do Benfica, de vez em quando, ou um novo milagre de Fátima, para descansar as massas.
Pura ilusão, é apenas mais um dos “couros” a que nos habituaram, nestes últimos anos … enquanto por outro lado vão enchendo a barriga, à custa do nosso dinheiro, suor e lágrimas .
Na minha opinião trata-se mais de uma espécie de liberdade condicionada, sujeita ao pagamento de uma pesada caução, que se prolongará não só durante o resto da nossa vida, mas também se transmitirá por herança aos nossos filhos.
Senão vejamos :
--- existem neste momento entre 10 a 40 mil pessoas sujeitas a escutas telefónicas … ficou de boca aberta? Também eu . Creio que nem no tempo da PIDE, havia tanta gente debaixo de escuta ? Quem sabe se você não será um destes ! Ou eu !
--- metade da nossa população prisional, são presos preventivos. Não sei o número certo, mas são largos milhares, que podem ficar a apodrecer durante 3 anos, repito 3 anos, sendo que uma parte considerável é por fim considerada inocente, sendo posta na rua, sem sequer um pedido de desculpas … Pode-lhe acontecer a si ou a mim, principalmente se não tiver dinheiro para comprar um advogado decente (ou deveria chamar indecente), que cobra milhares, só para atender o telefone … Se isto lhe acontecer para além dos anos de “choça”, verá o seu nome arrastado irremediavelmente na lama, ninguém lhe voltará a dar emprego e até os seus vizinhos lhe olharão de lado …
--- se for um Zé Ninguém é preso e acusado, se cometeu o crime de dever alguns euros (veja-se o caso da família de Odivelas, com 2 filhos menores, despejada da casa onde vivia há 30 anos, por causa de uma dívida de 50 €, por ordem da excelentíssima e muito democrática senhora presidenta da Câmara e que vive agora ao relento na rua …). Em contrapartida, se for um “manda-chuva” importante e dever milhões, nada lhe acontece. Tal é o caso do Estado- chulo que temos que se dá ao luxo de dever larguíssimos milhões, de obras e serviços realizados e não pagos, enquanto ao mesmo tempo exige o reembolso imediato do IVA, condenando assim desta forma milhares de pequenas empresas à falência …
Sabia que, por exemplo só a Câmara de Lisboa, deve mil milhões de euros a fornecedores ?
--- sabia que há emigrantes presos há 50 e mais dias em contentores, sem janelas, no aeroporto do Porto, alguns deles com filhos pequenos, amontoados em cubículos imundos, só porque cometeram o crime, de tentar entrar em Portugal, pela porta errada… Porra, são seres humanos !!! Ou já nos esquecemos dos milhões de Portugueses, com mala de cartão, que atravessaram a salto para França, à procura de um futuro melhor ? …
E muitos outros casos podiam aqui ser mencionados.
Então, ainda sente orgulho na nossa democracia ?
Está satisfeito com a nossa liberdade ?

Benfica

Parabéns ao Benfica, pela vitória de ontem.
Foi uma vitória do "vai ou racha", cheia de força e determinação, que cilindrou as vedetas inglesas.
Sempre tivemos um certo jeito para "missões impossíveis" e quando isso surge associado à nossa tradicional capacidade de desenrascanso, os resultados aparecem ...
Faltáva-nos o mesmo espírito para governar Portugal !

Afectos

A nossa vida necessita de afectos. São como o pão para a alma …
E nós tão preocupados em alimentar o corpo sequioso, quantas vezes não nos esquecemos da alma !
Se não gosta da palavra, substitua-a por espírito ou ego. Não interessa.
Onde eu queria chegar era sublinhar a nossa necessidade de sermos apreciados, de nos afagarem com carinho, de sentirmos que a nossa existência interessa a alguém …
Num mundo de crítica feroz e quantas vezes implacável …. é muitas vezes mais importante dizer bem, do que mal .
É muito mais difícil construir, do que deitar abaixo …. E quantas vezes os elogios sinceros, as manifestações de apreço e de admiração, não ficam por dizer … umas vezes por falta de tempo, outras por acanhamento, outras por …
E você, quando foi a última vez, que disse ao seu amor, que o amava ?
Quando foi que disse obrigado aos seu pais, por simplesmente o terem posto neste mundo ? Quando foi que mostrou o seu apreço ao seu amigo, por simplesmente ser seu amigo ?
Quando foi que mostrou a sua admiração ao seu professor, por o ter marcado e mostrado o caminho ?
Muitas vezes o que não se diz é muito mais importante do que aquilo que nos sai da boca …
Outras vezes, nem é preciso dizer … basta um carinho, no momento certo, um sorriso de rosto inteiro uma festa quando ela é necessária …
Não se acanhe nos seus afectos … o momento é já ! Depois, poderá já ser tarde demais !
O afecto que transmitirmos, o amor que transbordarmos, o carinho que oferecermos … a nós voltará, num efeito ricochete, mais ou menos inevitável .

terça-feira, dezembro 06, 2005

Qualidade de Vida

Tenho 46 anos e se nada de extraordinário acontecer, posso dizer que estou sensivelmente a meio da minha vida.
Olho á minha volta para amigos e conhecidos de idade semelhante e vejo que grande parte deles está já bastante “podre”, ou pelo menos algo debilitada.
Porquê ? Ora, sabemos todos muito bem porquê. Uma vida que se foi aburguesando após a juventude, os petiscos e intermináveis comezainas, os muitos anos de tabaco, ou álcool em excesso e uma enorme falta de exercício físico.
O nosso corpo é uma máquina fabulosa, que aguenta muitíssimo, mas não somos perfeitos … e tudo se vai deteriorando, com o passar dos anos.
Gostávamos imenso de ter uma pílula milagrosa, que fosse só tomar … e como que por magia voltássemos a ter 20 anos !
Mas não tenhamos ilusões, essa pílula não existe e não será inventada tão cedo.
Então não há solução ?
Há sim senhor e muitos de nós até sabemos qual é … Exige sacrifícios, muita disciplina e força de vontade !!!
Primeiro que tudo deixe de fumar, corte o mais possível nos enchidos, gorduras e açucares e procure fazer uma alimentação mais saudável, com mais legumes, frutas e saladas.
Depois e isto é fundamental, procure fazer exercício físico, de uma forma regular e persistente, pelo menos duas vezes por semana. Faça umas caminhadas, nade, talvez canoagem ou ténis, enfim seja lá o que for, dentro das suas preferências. E faça-o de forma regular e sistemática, porque de nada serve ir uma vez e ficar depois duas semanas, sem lá aparecer.
Sim, já sei o que está a pensar. Não tem tempo ! Desculpe, não acredito. Ter tempo ou não é sempre muito relativo, quando damos muita importância a qualquer coisa, acabamos sempre por arranjar tempo para ela, nem que seja ao fim de semana. Essa é uma das desculpas que mais vezes utilizamos e a maior parte das vezes, serve apenas para justificar a nossa preguiça ou falta de vontade.
É caro ? Não, de forma nenhuma ! Apesar de tudo isto custar dinheiro é sempre muito menos do que aquilo que irá gastar na farmácia, mais tarde ou mais cedo !
No primeiro mês irá sentir-se completamente partido, as suas “dobradiças” irão chiar por todos os lados e o perigo de desistir ou esquecer-se é enorme.
Depois verá pouco a pouco o seu corpo a recuperar, sentir-se-á muito melhor fisicamente, acordará muito mais bem disposto de manhã e tenderá até a sentir-se mais optimista e confiante no seu dia a dia.
Vá lá, faça um esforçozinho ! Vale mesmo a pena !!!
Invista na 2ª metade da sua vida, para que possa vivê-la com QUALIDADE, envelhecer com alegria e acredite cegamente que ainda lhe falta fazer muitas coisas maravilhosas.
Tal com dizia a canção : Hoje pode ser o primeiro dia, do resto da tua vida !


( dedicado a todos os insubstituíveis, que preenchem a minha vida )

segunda-feira, dezembro 05, 2005

domingo, dezembro 04, 2005

Prendas de Natal

Já decidi as prendas que vou oferecer neste Natal:
--- Papa – uma caixa de preservativos e o livro Código da Vinci;
--- Engenheiro Sócrates – um incinerador portátil e um detector de mentiras;
--- Dr. Mário Soares – uma embalagem de Viagra e um CD da Shakira;
--- Professor Cavaco e Silva – um livro do KamaSutra e um curso de magia Firme e Hirto;
--- Presidente Jorge Sampaio – um CD da Conversa da Treta e uma Playstation, para a reforma;
--- Poeta Manuel Alegre – um livro do Dom Quixote e um cartão de militante do partido Socialista;
--- Ministra da Educação – ódio, apenas ódio;
--- Fátima Felgueiras -- uma viagem ao Brasil, só de ida:
--- Paulo Portas -- um submarino de borracha, para a banheira e um Jaguar da Universidade Moderna;
--- Santana Lopes – um espelho mágico e um autógrafo da Lili Caneças;
--- Herman José – um CD com as transcrições do julgamento da Casa Pia:
--- George Bush – uma máscara do Sadam e um avião da Air Laden;
--- Tony Blair – um “souvenir” do Iraque e uma embalagem da pasta medicinal Couto;
--- Durão Barroso – um cherne de platina e uma couve de Bruxelas;

Infelizmente como o subsídio de Natal, não chega para tudo, vou antes ali a Ayamonte e compro uns caramelos, para todos.

Mezio, Serra da Peneda

sábado, dezembro 03, 2005

A Cura (4ªparte)

Já há umas boas horas que Portugal ali estava, à beira daquela estrada com o polegar esticado á caridade alheia e nada. Não havia maneira de apanhar uma boleia e agora a noite começava lentamente a chegar.
Os tempos estavam difíceis, falava-se em crise, a tal amaldiçoada, que o visitava periodicamente, sem apelo nem agravo, não lhe dando nem um bocadinho de folga, para descansar a alma e repousar as costas. Se ao menos tivesse dado um pouco mais de atenção na escola !….
Mas não, o que ele sempre gostara era de jogar à bola no recreio e odiara as Matemáticas, as Ciências e as Físico-Químicas …
Por isso logo cedo abandonara a escola e começara a vergar a mola, primeiro a cavar batatas lá na horta e depois quando os campos foram abandonados, a carregar baldes de cimento, lá na casa dos camones.
Estava ele perdido nos seus pensamentos, quando um carro parou um pouco mais à frente. Correu para ele, ainda meio atordoado com a sua sorte e olhou para o homem, que o observava através do vidro entreaberto :
--- Boa tarde amigo, queria ir para Felgueiras, dá-me uma boleiazita ?
--- Venha, venha, disse o homem, mas primeiro limpe bem os pés, aí nessas ervas.
Assim fez, abriu a porta e sentou-se ao lado de um homem, alto, magro e impecávelmente vestido.
--- Não me leve a mal, explicou o homem ao volante, o carro é novo e resolvi vir fazer a rodagem, até aqui ao Norte. Vou até ao Congresso do meu partido e passo em Felgueiras, sim senhor. Normalmente não dou boleias, mas estava para aqui sózinho, já a dar-me o sono e resolvi levá-lo. Chamo-me Cavaco e vou endireitar este país, exclamou a terminar, o homem ao volante.
Olhou-o de alto a baixo, meio desconfiado, enquanto pensava: --- Olha, mais outro, só me saem é duques !!! No entanto, não deixou transparecer o que lhe ia na alma e agradeceu ao homem a sua generosidade.
Explicou ao homem o que lhe tinha acontecido e porque estava ali, acabando por lhe perguntar se conhecia Fátima Peneiras.
--- A Fátinha, conheço pois, respondeu o homem, é uma santa, só é pena não pertencer ao meu partido, talvez um dia quem sabe.
E lá continuaram viagem, sem grandes conversas mais, porque o homem não tirava os olhos da estrada, firme e hirto, como se tivesse engolido uma vassoura.
Finalmente o carro parou em frente a uma vivenda apalaçada, forrada a azulejos de casa de banho e com dois leões de porcelana a dominarem o portão de entrada.
--- Boa sorte, desejou-lhe o homem, não se esqueça de votar em mim, exclamou, arrancando com a viatura e deixando-o ali especado e hesitante.
Quando ia a tocar a campainha, dois enormes doberman negros, saltaram-lhe ao caminho ladrando furiosamente e ferraram-lhe os dentes implacáveis, cada um no seu braço.
--- Socorro, socorro, gritou Portugal, a plenos pulmões, aí que me matam !
Para sua sorte, as luzes da entrada da casa logo se acenderam e uma mulher de meia idade, impecávelmente vestida, de lá saiu, chamando pelos cães, que prontamente obedeceram.
--- Que é que se passa ? gritou a mulher, você é jornalista ?
--- Não, não, explicou Portugal, ainda agarrado ao braço direito, o mais magoado, pelas dentadas dos cães. De um só folgo, explicou à mulher porque estava ali e ela prendeu finalmente os cães, convidando-o a entrar.
--- Senhor Portugal, muito prazer em conhecer, desculpe lá o Narciso e o Amorim, eles são uns cachorros adoráveis, mas ultimamente tem andado muitos polícias e jornalistas por aí a rondar e os canitos ficam perturbados.
--- Então o Senhor quer um saco azul ? perguntou a mulher, concerteza, tenho muitos, disse, apontando para cima de uma mesa, onde uma pilha de sacos azuis se amontoavam, com a sua fotografia sorridente e onde se lia: Fátima Peneiras à presidência . Leve também umas lapiseiras e uns isqueiros, para compensar as dentadas dos meus cães.

(continua)

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Campeões de merda

Este meu país, não deixa de me supreender, infelizmente pelos piores motivos.
Um relatório da CEE, prevê que em 2012, este ex-jardim à beira mar plantado, será o maior poluidor da Europa .... e portanto o que maior contribuição dará para o efeito estufa, que está a mudificar o clima do nosso planeta .
Sinceramente !!!
Já não bastava sermos os mais pobres, os mais improdutivos, os mais gastadores, os mais infectados com Sida ... faltava-nos só mais esta "benção" de sermos os mais porcos !!!
Resta-nos a consolação de termos feito o maior pão com chouriço do mundo e de termos a maior árvore de Natal da Europa ... Fantástico!!!
É caso para dizer: somos uns campeões de merda !!!