sábado, dezembro 17, 2005

Memórias

O carro rola suavemente na noite escura, polvilhada de luzinhas de candeeiros e casas.
Na rádio passa aquela música suave, que me embala, numa agradável sensação de prazer e aventura …
O tio e o sobrinho … o Carocha e a noite … o Algarve e a emoção dos doze anos … o cafezinho naquele bar de praia e os camarões deliciosos, naquela cervejaria de Quarteira.
A excitação da aventura, por entre os goles de cerveja … o mundo dos adultos à espreita, por entre aquele buraco nas cortinas … Os sonhos maravilhosos e a certeza de ir mudar o mundo … Histórias de viagens e encontros, pessoas fantásticas e sonhos inadiáveis …
Amanhã … haverá praia, muita praia … sol, férias … batalhas de colchões na água e emocionantes partidas de futebol na areia.
Á noite, quem sabe … talvez outra escapada a dois, tio e sobrinho, aquela dupla … o boémio e o aprendiz … de novo os camarões e a cerveja, de novo a aventura …
Antes à tarde, uma fuga até ao campo à encantadora hortinha, onde as laranjeiras estão a pedir água e as galinhas desesperam pelo milho. E o trepar ao bico das tangerineiras sumarentas, de onde o mundo parece tão vasto …. Com uma mão segurando o ramo, enquanto a outra descasca a tangerina deliciosa e os olhos seleccionam já a próxima “vítima” deste apetite insaciável .
É o som dos passarinhos nas árvores e aquele relaxante perfume do campo algarvio … o sol impiedoso e quente e o vento que acaricia as árvores …
E mais não é, porque a música acabou, o tempo passou … e a realidade acordou !

( 23/3/95, dedicado ao meu tio e escrito ao som de S. Francisco)