Professores descartáveis

Tinha prometido a mim próprio que não voltava a falar de Ensino, nem de Escola, neste blog.
O Ensino em Portugal é actualmente uma enorme tristeza, uma tristeza tão grande, que normalmente prefiro mudar de tema ...
No entanto hoje não resisti. Este é um dia de luto, para todos aqueles que escolheram esta nobre profissão e que todos dias, tentam dar o seu melhor , contra tudo e contra todos, por vezes até contra eles próprios e a sua saúde ...
Hoje o Presidente da Républica promulgou o Estatuto da VERGONHA Docente.
Não resisto pois em deixar-vos um texto que escrevi recentemente:


B é professora há 32 anos. Passaram por si milhares de crianças, jovens e adolescentes. Investiu o seu esforço e a sua dedicação na “arte” de lhes ensinar conteúdos, explicar procedimentos e técnicas, ou seja, transmitir-lhes o “saber”.
Há alguns anos atrás o seu corpo cansado foi-se abaixo, esgotamento, problemas cardíacos e outras “maleitas”, arrastaram-na para uma cama de hospital, onde passou largos meses.
Quando voltou a sua incapacidade para as aulas era evidente, tinha gasto todas as “pilhas” que dispunha e a junta médica determinou que já não poderia voltar a dar aulas, ficando na escola a desempenhar outras funções de apoio às actividades docentes.
Passadas todos estes anos, nem uma merda de uma medalha teve direito, como acontece aos militares, que combatem noutras guerras. Antes pelo contrário, dizem-lhe que vai deixar de ser professora, vai ser posta fora do Ensino !
Chamam-lhe inútil e tratam-na como uma professora descartável, tipo usar e deitar fora !!! …
Um lixo afinal, que já não serve para nada e que se abandona para aí, para morrer longe, de preferência sem fazer muito barulho.
Este é um golpe fatal no ego de qualquer pessoa. Dedica-se toda uma vida a uma causa que julgámos nobre e depois tratam-nos com desprezo e distância.
É Portugal no seu pior, o egoísmo e individualismo ancestral, aliado às contenções financeiras, à ingratidão social e à desprestigiante imagem do professor.
Actualmente, neste país à beira mar plantado, os heróis são o Cristiano Ronaldo, o Castelo Branco ou a Floribela.
Chamar professor a alguém é quase equivalente a um insulto e muitas vezes as faces que observam o “malandro” professor, mostram o desdém e o desprezo, quando não a raiva, que sentem, por tão desprezível criatura.
Em Portugal, o professor não é visto como um Mestre, que transmite o conhecimento, essencial ao nosso futuro. Em vez disso é visto muitas vezes como aquele chato, que nos obriga a fazer contas aborrecidas, ou nos massacra com gramáticas e outras “secas” do género.
Tristeza !!!
Quanto a B, não sei qual será o seu destino …. Será que a solidariedade dos colegas, a conseguirá proteger ? …. Ou será que o ódio profundo, da Senhora Ministra da Educação a irá depositar nalgum asilo obscuro, à espera da morte ?