sexta-feira, maio 04, 2007

O fenómeno Jardim

Ora aí está um tema polémico !
Um dia destes um amigo disse-me que a minha escrita era muito consensual … será ? …
Gosto, no entanto imenso da polémica … e não fujo às questões, mesmo quando elas são difíceis !
Ora essa porquê difíceis ? … Porque Alberto João Jardim é como que uma espinha espetada na garganta da esquerda, um abcesso no jardim idílico do politicamente correcto, um personagem controverso e muitas vezes incómodo, até mesmo para a direita nacional.
Antes de continuar, queria aqui fazer uma ressalva: não sou admirador, nem adepto, nem apoiante do homem ! Não votaria nele, ainda que vivesse na Madeira !
Tudo isto não me impede de fazer uma análise do homem, o personagem que governa a Ilha da Madeira há 30 anos, como um Rei absoluto, poderoso e imune a todos os ataques, invejas e armadilhas.
Antes de começar a minha análise, apenas um pequeno prefácio, para situar a questão: antes do 25 de Abril, a Madeira era uma pequena ilha, perdida no meio de um vasto Oceano, longe de tudo, abandonada à sua sorte, pelos poderes de Lisboa, do “Contenente”, como eles dizem, demasiado ocupados com o seu umbigo e as “guerrinhas” de faca e alguidar, tão vulgares na vidinha nacional. Os níveis de desenvolvimento tinham ficado parados, algures no virar do século XX, a emigração para a Venezuela, África do Sul e Brasil, era a única alternativa possível à agricultura de subsistência, ou ao cultivo da vinha, que produzia o Vinho da Madeira, praticamente a única exportação da ilha e que deliciava os Camones da distante Inglaterra.
Pequeninos, poucochinhos e esquecidos, para não dizer abandonados, os Madeirenses lá viam de vez em quando algum dos seus filhos mais afortunados, vingar no Contenente.
Jardim era então um jornalista, num jornaleco da ilha, que percebeu que chegara a sua hora, viu que nada tinha a perder e na ressaca da perca do império colonial Português e da trauma de um País de aquém e além mar, reduzido á sua insignificância e pequenez, soube extrair com juros ( juros elevados !) o que lhes era devido, após tantos anos de desprezo e ignorância.
Agitou então o fantasma da independência (na realidade nunca passou de um fantasma), para assim poder extorquir ao poder central de Lisboa muito mais do que era suposto, dada a dimensão da ilha e a sua população. E durante os 30 anos que se seguiram não parou de o fazer, consciente do seu sucesso, jogando com a fraqueza e efemeridade dos muitos e sucessivos governos, que por cá foram aparecendo e desaparecendo.
Esta capacidade de arranjar dinheiro, muito dinheiro é talvez a principal razão do seu sucesso, mas não é a única.
Outra característica muito importante e algo rara na política Portuguesa é a sua identificação com o povo e a sensação de proximidade com ele, que Jardim consegue transmitir. O que quero dizer com isto ? Passo a explicar:
Desde tempos longínquos na nossa História a Política e a Governação dos destinos da Nação, foram desempenhados pelos que estavam no topo da pirâmide social, inicialmente a nobreza e depois a partir do século XVIII, pela alta burguesia em ascensão. Ainda hoje é assim, apesar de supostamente mais camuflado, mas na realidade os nossos governantes, vem todos da elite e pouco conhecem do mundo cá em baixo fora dos palácios, dos cocktails e das recepções (daí a absoluta necessidade de se ser doutor, engenheiro ou advogado, como está à vista no recente caso Sócrates).
Jardim não sendo do povo, soube com mestria aproximar-se dele. Primeiro que tudo recusou viver no Palácio do Governo, moradia sublime sobre a Baía do Funchal e permaneceu habitando na sua casa de sempre, no centro da cidade. Depois, anda pela rua livremente a qualquer hora, aparentemente, sem escolta policial (ou vigiado apenas discretamente à distância) e na rua, fala com todos, mete conversa, dá uma palavrinha. E isto todo o ano e não apenas nas véspera das eleições, com fazem os políticos cá no Continente.
Vai às feiras e às festas populares e faz questão de beber um copo em todas as bancas. Apanha uma carraspana, sem dúvida, mas estas medidas tem um efeito político de grande alcance, porque as pessoas, vêm-no com um dos deles e não como um corpo estranho lá no cimo do pedestal.
Depois fala com uma linguagem popular, que todos entendem e não pratica o politiquês inacessível e intelectual, como quase todos os outros. Fala mal, diz palavrões, bacoradas, fazendo todo o mundo esquecer que ele até é doutor e parecendo mais o agricultor ou o carroceiro. Não faz mal, o povo gosta assim, apesar dos intelectuais gozarem e ser alvo da chacota do Continente. É boçal, popularucho, demagógico, parece até uma figura de opereta, mas esta pose é intencional, é propositada e dá resultado.
Jardim dá ao povo, o que ele gosta ! e daí o povo gosta dele e vota nele ! …
Ninguém consegue melhor do que ele, chular o Continente !
E o que importa é que ele tem conseguido com esse montão de dinheiro, desenvolver a Madeira, dotá-la de uma rede de estrada e túneis moderna e eficiente, desenvolver o turismo aproveitando as enormes aptidões naturais e climáticas da ilha.
A Obra está à vista e ele não para de inaugurar mais coisas. Mesmo aquelas que parecem insignificantes, são significativas para a população dessas zonas e dá-lhe votos.
È imoral ? Talvez, mas a verdade é que todos fazem o mesmo, de forma mais ou menos disfarçada.
Fez algumas asneiras, mas até agora ainda ninguém conseguiu apanhá-lo com as calças na mão … (e bem gostavam, calculo).
Sócrates na sua ânsia moralizadora (!!!) tentou metê-lo na ordem e cortar-lhe as verbas.
Fê-lo de forma precipitada, arrogante e nem se preocupou em explicar ao povo da Madeira a razão para lhe estar assim a cortar a mesada …. Que esperava ? Foi mais um tiro no pé !
Jardim fez teatro, dramatizou, afirmou-se roubado e explorado e demitiu-se, convocando novas eleições.
Agora Jardim vai ganhar de novo e com a maior vitória de sempre ! E isto sem ter de prometer nada de novo. Apenas terá 4 anos para fazer tudo aquilo, que não ia conseguir fazer em 2 anos.
Jardim não está nada preocupado com os ódios e aversões que gera no Continente. Ele vive é na Madeira e lá vai de vento em popa.
Portanto parem para aí de berrar com o défice democrático … parece mais dor de cotovelo! O homem ganha as eleições! Quem se atreve a ir lá derrotá-lo ?
E depois se ele desaparecesse de cena, com quem iríamos nós inventar anedotas ?
O folclore nacional ficaria irremediavelmente mais pobre !

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Palavras, para quê? (Sabes que não estou em posição de fazer grandes comentários...eh,eh,eh).
Adorei!
Assinado: "Cubana"

5/5/07 01:41  

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