domingo, maio 13, 2007

Desaparecimento

Nos últimos dias todos os orgãos de informação assentaram as suas baterias sobre o caso do desaparecimento da míuda inglesa, de um resort turístico no Algarve.
É evidente que lamento o desaparecimento da criança ! É evidente que estou solidário com o sofrimento dos pais ! É evidente que me causa profunda repulsa este tipo de crimes e acho que os responsáveis (se algum dia forem encontrados) deverão ser punidos com mão pesada.
Mas não é sobre tudo isso que eu venho aqui falar .
O que eu quero dizer poderá ser incómodo para muitos, políticamente incorrecto , mas não deixa por isso de ser verdade e as verdades devem ser ditas, doa a quem doer!
Todos os anos em Portugal, largas dezenas de crianças, de todas as idades são dadas como desaparecidas e um boa parte delas, nunca volta a ser encontrada !
Estas dezenas (talvez centenas) de desaparecimentos permanecem anónimos e raros são aqueles que merecem sequer uma pequena notícia na página 39, de um qualquer jornal diário. Muitas vezes até a própria polícia, pouca ou nenhuma atenção lhes dedicam, já que alegam falta de meios de investigação. O sofrimento das famílias e amigos permanece anónimo e cresce em silêncio, longe dos holofotes das televisões ou dos flashes dos repórteres.
Desta vez tudo foi diferente. O governo e as chefias policiais destacaram para o local todos os seus melhores meios. Centena e meia de polícias, GNR, Judiciária, Protecção Civil, bombeiros, bateram exaustivamente durante mais de uma semana uma área extensa, com a ajuda de cães, helicópteros no ar, barcos e mergulhadores nas praias, etc ....
Ao mesmo tempo à pacata Praia da Luz, chegaram dezenas de jornalistas, inúmeros carros de reportagem de estações de televisão, os telejornais passaram a emitir directos de longos minutos em que os jornalistas presentes, repetiam 3 e 4 vezes a mesma coisa, transformando o nada da investigação, em algo que parecia substancial, os jornais durante uma semana ocuparam as primeiras páginas, com não-informações especulativas e todo o país passou a tratar Madeleine como a sua filha desparecida.
Porquê ? O que mudou ? Qual o motivo para tamanha diferença de tratamentos ?
É simples e também brutal !
É que Madeleine, a criança desaparecida é Inglesa, filha de turistas ingleses de férias em Portugal !
Agora pergunto eu ? E se fosse uma criança portuguesa teria direito ao mesmo tratamento ?
E se fosse uma criança Cabo-verdiana ou Angolana ou Ucraniana, teria direito ao mesmo tratamento ?
Como dizia George Orwell, "todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros ".
Basta de hipocrisias, por favor !
Espero sinceramente que Madeleine seja encontrada com vida e volte ao seio da sua família , mas também espero (exijo, talvez ficasse melhor), que a próxima criança que desaparecer em Portugal goze do mesmo tratamento por parte das polícias e da mesma atenção por parte dos media, independentemente da sua nacionalidade, raça, ou cor da pele !!!

6 Comments:

Blogger Manuel Ramos said...

Apoiado!

13/5/07 22:42  
Anonymous Anónimo said...

João:

Subescrevo inteiramente as tuas palavras, penso exactamente assim.
E para além disso, há também um outro aspecto que me incomoda. Os media bombardeiam-nos com notícias de Madeleine, dos seus pais, dos seus irmãos. As investigações são seguidas de perto por estações de televisão, rádio, etc. Todo este manancial de informação absurda e desnecessária entra pelas casas das pessoas adentro. Elas deixam-se contagiar e nem se apercebem dessa invasão...
Eu também lamento muito o sucedido.É um crime repugnante e hediondo. Porém, e por mais politicamente incorrecto que pareça, esse é um drama familiar, dos pais, parentes amigos e conhecidos de Madeleine. Não nosso.
O que nos interessa enquanto sociedade é que o crime seja resolvido e os responsáveis punidos.
A comunicação social explora esse vasto campo de emoções, confundindo as pessoas e fazendo-as sofrer como se Madeleine fosse membro da família de cada uma das pessoas que de casa assistem ao telejornal.
Julgo que é preciso manter a lucidez. Devemos pensar e agir globalmente, tendo a noção que os nossos actos afectam não só o vizinho do lado como eventualmente todo o planeta. Quanto a sofrer, devemos fazê-lo pelos nossos. Verdadeiramente.
Quantas lágrimas pela menina inglesa da TV correm indiferentes a quem está mesmo ao lado, na partilha do sofá?

S.R.

14/5/07 17:46  
Blogger Celia Luz said...

Eu compreendo o que dizes mas tambem compreendo porque a notícia se transformou no que é. Aqui na Inglaterra todas as pessoas que desaparecem tem esse tratamento e como tal, criticaram logo os portugueses por nao disponibilizarem todos os meios necessarios á procura da menina e tambem criticaram as investigacoes. O Governo portugues que quer sempre ficar bonito resolveu entao disponibilizar tudo e com a televisao e jornais aconteceu o mesmo, para ficarem bonitos copiam os jornais e televisao Inglesa. Fico na duvida qual sera o melhor metodo, mas claro que se a foto da menina for bem divulgada, a menina vai ser mais facilmente reconhecida se for vista.

15/5/07 22:05  
Anonymous Anónimo said...

Três comentários me trazem até esta caixa de comentários:
- Em primeiro lugar (e começando por afirmar que concordo plenamente com a tua análise da situação e sei que se se tratasse de uma qualquer criança portuguesa ou proveniente de um desses países que recentemente começaram a equilibrar um pouco mais a pirâmide demográfica de um País de tristes que já nem sequer se reproduzem, no que respeita a nossa população activa, as coisas não se passariam nunca deste modo), acho curioso que, mesmo aqueles que se encontram em sintonia com a tua opinião, acabam por fazer parte do grupo dos que, se interessam pela espreitadela mórbida na vida alheia e pela produção de comentários politicamente correctos, sem originalidade nenhuma (quantas vezes já eu os ouvi a todos?). Se não que outra coisa explicaria o facto de este post, embora bastante recente, ter merecido já o dobro da média de comentários normalmente feitos àquilo que escreves, comentários esses também mais extensos do que o habitual e mais "inflamados". A verdade é que, salvo raras excepções (entre as quais me incluo, pois não só não tenho acompanhado as notícias a respeito da "ocorrência", nem me interesso por estes "petit fait divers", sem qualquer relevância para a vida do País e que me tem passado completamente ao lado).
O segundo comentário - peço que me perdoes estar a aproveitar-me do teu blogue para responder a um dos teus "clientes habituais" - vai para a nota relativa à desistência do Nakata em permanecer na blogosfera. Circunstâncias que escaparam parcialmente ao meu controlo fizeram com que o blogue desaparecesse do mapa. Isto, associado a uma cada vez maior falta de tempo, boa disposição e disponibilidade mental, fizeram com que uma decisão que estava já na calha há algum tempo, acabasse por receber o impulso necessário à sua concretização.
"Alimentar" um blogue, como tu deves saber, não é propriamente tarefa leve, ocupando bastante tempo e obrigando a um certo empenhamento que, pela parte que me toca, deixo de existir, por via de um certo desencantamento. Fica, pois, no ar o repto para todos quantos acham que não se deve desistir de um blogue: porque não experimentam, primeiro, criar o vosso próprio blogue para depois podermos discutir o assunto com um maior conhecimento de causa?
Como dizia um professor meu, nos tempos do mestrado, os portugueses são um povo muito dado à adopção de consensos negativos. Para tudo o que seja criticar, estamos logo prontos, se bem que o contrário já não suceda. Porque será que ninguém se lemrou de recordar o legado do Nakata, antes da sua morte (morte anunciada com alguma antecedência e que acabou por se concretizar), como algo que teve alguns momentos positivos e interessantes, ficando apenas no ar o desagrado com a sua saída da blogosfera?
Como também dizia esse mesmo professor, só devemos levar a sério as críticas daqueles a quem reconhecemos um desempenmho melhor do que o nosso e não creio que seja o caso dos que lêm em diagonal textos que não só nos dão trabalho a escrever, como também representam uma exposição aberta e franca das nossas visões do mundo e do que nele se passa que tantas vezes só servem para desencadear os tais consensos negativos. Bem sei que a resposta é sempre a mesma, a falta de tempo, mas essa foi também uma das razões da partidfa do nakata para outras paragens.
Finalmente, queria comentar aquele post que (desculpa a franqueza) considerei algo piegas, sobre a falta de comentários. Da minha análise superficial, percebi que ele se destaca como um dos que recebeu maior número de comentários, apesar do discurso algo "calimérico" do "ninguém me liga" (tens a desculpa de assumires, no final do mesmo, que de vez em quando todos precisamos de umas palmadinhas no ego, coisa que, creio ter sido plenamente conseguida). Claro que todos nós os que te lemos, o fazemos por levar a sério as tuas opiniões, por nos fazeres rir e pensar, por seres um excelente fotografo, etc. Não creio que precises de entrar numa de "ou me comentam, ou vou-me embora!", porque, como diz um dos que conseguiste pôr a comentar-te, nem sempre uma pessoa tem disponibilidade para o fazer ou não sente necessidade disso, por concordar com os fundamentos da posições que expressas.
Espero que não te chateies com a minha franqueza, mas eu cá sou assim: o que penso digo. E, embora eu seja, às vezes, um gajo um pouco bruto, com alguma falta de tacto e politicamente incorrecto, não será (pela parte que me toca) não será nunca por não concordar com um amigo nm determinado ponto que essa amizade sofrerá abalos...
...e quem não gostar assim, não come, não é!!
Um forte abraço
RV

16/5/07 15:13  
Anonymous Anónimo said...

P.S.: Por vezes, há um bichinho que em mim ficou que me impulsiona no sentido do "grave robbing". Com efeito, há dias em que me apetece ir até ao cemitério e retirar o Nakata de sua campa, para o fazer reviver por umas quaisquer artes de magia negra. No entanto, uma vida que se inicia às 8h da manhã, para terminar às 22h, todos os dias, por vezes, com trabalho para ser feito em casa e ainda com uma filhota que tem precisado todas as noites de mim, para estar a trabalhar com ela as matérias que irão saír nos seus exames e que, muitas das vezes, tenho eu próprio de voltar a aprender, para que a minha ajuda tenha algum préstimo, deixa muito pouco tempo para veleidades desta natureza, ou práticas que há 300 anos atrás me valeriam, certamente, a fogueira da inquisição.
RV

RV

16/5/07 15:19  
Blogger Unknown said...

Olá Rodrigo
Apenas um pequeno comentário para te dizer que eu era um dos que gostava de ler o Nakata e tive pena do seu desaparecimento (apesar de achar que ele vai acabar por voltar um dia).
Quanto ao meu texto "Calimero", agradeço a tua sinceridade, mas sabes há alturas assim em que não basta pensar, é preciso dizer claramente aquilo que se pensa. Realmente não tem sido fácil manter o Fragmentos ... mas ele lá se tem aguentado, umas vezes mais activo, outras mais ausente ... como eu!
Um abraço.

16/5/07 20:44  

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