terça-feira, junho 20, 2006

Crónicas de viagem 1


Hoje a alvorada foi logo às sete e meia. Era dia do passeio de jangada pelo rio Maracaípe, para ver os cavalos marinhos.
A travessia até ao Pontal foi algo dura. O sol estava bravo, logo àquela hora da manhã, já que não havia vento.
Quando lá chegámos o barqueiro de serviço era o Zé Luís. Negociámos um pouco o preço, “se não vir cavalo marinho não paga, se vir paga a dobrar”, dizia o cara sorrindo, enquanto pegava no frasco de vidro onde iria colocar os cavalos marinhos, para os podermos ver mais de perto, antes de os devolver à natureza.

E lá fomos …. A jangada tinha dois bancos com chapéu de sol, para proteger um pouco os visitantes e atrás o barqueiro com um pau comprido, empurrava a jangada pelo rio fora, escolhendo os locais mais fundos, para não ficar presa na areia.
É claro que vimos cavalos marinhos, vários até que o Zé luís colocou no frasco e que fotografei variadas vezes. Vimos também caranguejos de vários tamanhos e feitios, que circulavam por entre a floresta de raízes aéreas dos mangues, que enchiam as margens.
Vimos peixes balão, vimos uns lindos pássaros amarelos, que não fixei o nome e que fugiram à foto no último segundo. Vimos o bar flutuante, agora numa ilha do meio do rio, graças à maré vazia, mas que ficava todos os dias a flutuar, logo que a preia-mar inundava o rio de mais água, submergindo muitas destas ilhotas de mangue.
Zé Luís dava explicações variadas, sobre o que estávamos a ver e ao mesmo tempo recolhia todo o lixo, que encontrava na água, ou nas margens e que colocava num balde para despejar em terra.
“Sabe, este é o nosso ganha pão, é preciso preservá-lo”, dizia exibindo o seu enorme sorriso.
“Dantes a vida era bem mais dura, passávamos o santo dia a apanhar aratu (caranguejo), que vendíamos aos restaurantes, para fazer casquinha. Agora a vida está melhor, somos 24 barqueiros e pegamos os turistas à vez, sem discussão”.
Por duas vezes a barcaça, ficou presa na areia, já que a maré continuava a vazar. Aí saíamos, enterrávamos os pés no lodo e caminhávamos um pouco pelo rio, até atingir local mais fundo.
Outro barqueiro passou e mostrou um cavalo marinho colorido, que estava na margem agarrado às raízes dos mangues.
Estivemos mais de uma hora deslizando pelo rio, absorvendo aquela natureza e dando graças por ainda haver quem preserve e proteja a nossa biodiversidade, uma das maiores riquezas deste planeta lindo, cujo maior predador é o bicho homem, ser totalmente contraditório, capaz do melhor e do pior.
Que os cavalos marinhos de Maracaípe possam sobreviver por muitos anos, cuidados pelos nativos como o Zé Luís, que apesar de iletrados, contém em si mais sabedoria, que muitos doutores que eu conheço.


Saravah Zé Luís… saravah Maracaípe ….
Espero voltar !

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Que coisas tão bonitas que viste lá no Brasil, quem me dera ir lá um dia! Deu para ver que ainda há pessoas que preservam a natureza, felizmente!

23/6/06 19:52  

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